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Banco Central vê nível ‘moderado’ de concentração

Estudo do BC aponta que a compra da unidade brasileira do HSBC pelo Bradesco não altera de forma relevante o mercado

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast) e Josette Goulart
Atualização:

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A venda do HSBC Brasil para o Bradesco, anunciada nesta segunda-feira, vai aumentar a concentração bancária doméstica. Mas, de acordo com o Banco Central, ainda ficará em um nível considerado “moderado”. “O negócio é complexo, mas o sistema está apto a absorver essa operação, sem alterar de forma relevante esse nível de concentração”, garantiu o assessor do Departamento de Organização do Sistema Financeiro do BC (Deorf), Elker de Castro.

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Para se chegar ao tamanho da concentração de mercado, os técnicos do BC usam uma escala técnica, o Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH), que é obtido pela soma dos quadrados das fatias de mercado (market share) das empresas que operam numa determinada área. De zero a 1.000 pontos, há baixa concentração de mercado; de 1.000 a 1.800, há moderada concentração e, desse nível para cima, o mercado é altamente concentrado. O valor zero significa um mercado em que não existe nenhuma empresa do ramo e no caso de 10.000 trata-se de uma situação de monopólio.

De acordo com o BC, o negócio com o HSBC não fará com que, globalmente, se supere a marca de 1.800 pontos, ainda que fique mais próximo dele. No mais recente Relatório de Estabilidade Financeira (REF) de março, o IHH do segmento financeiro brasileiro estava em 1.376 no caso de ativos totais, em 1.645 no de operações de crédito e em 1.638 quando a avaliação é sobre depósitos totais. Os dados do REF são referentes a dezembro do ano passado.

Com aquisição do HSBC, Bradesco angariou mais clientes no Sul do País Foto: Estadão

Os dados de ativos totais ilustram como a concentração não se altera tanto com o negócio. Enquanto os quatro maiores bancos do País têm ativos superiores a R$ 1 trilhão, o HSBC, sétimo maior do ranking, tinha ativos de R$ 160 bilhões. 

O BC informou nesta segunda-feira, por meio de nota, que a operação terá de ser aprovada pela instituição, “condição imprescindível para que o negócio seja concluído”. “O Banco Central analisa a viabilidade do empreendimento e o impacto da operação sobre a estabilidade do SFN e sobre a concorrência”, informou o BC.

Competição. Com a compra do HSBC Brasil, o Bradesco se aproxima do Itaú, maior banco privado brasileiro. Os US$ 5,2 bilhões pagos por essa aproximação, no entanto, foram considerados pelo mercado um valor alto. As ações do Bradesco fecharam com recuo nesta segunda-feira. Mas as do Itaú também registraram queda. “Se fosse uma aquisição que acabasse com a competição, as ações do Itaú teriam subido”, diz João Manoel Pinho de Mello, economista e professor do Insper. Mas ele alerta: “Os órgãos anticoncorrenciais precisam fazer uma análise profunda de como ficará a concentração regional no Estado do Paraná, onde o HSBC era muito forte”.

Para Mello, é muito caro conquistar clientes de outros bancos. “As pessoas não trocam facilmente de instituição”, diz. “Com essa aquisição, o Bradesco cresce em um ano o que levaria para crescer 10 anos organicamente”, reforça o professor e consultor Roberto Troster.

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Na avaliação de alguns especialistas, a partir de agora, uma nova venda de bancos no Brasil pode se virar contra o Santander, que participou do processo de compra do HSBC, mas acabou perdendo a disputa. Se os acionistas do banco espanhol precisarem em algum momento se desfazer do ativo no Brasil, terão dificuldades para vendê-lo a instituições brasileiras. Atualmente, não existe a expectativa de que o Santander se desfaça de seus ativos, mas essa já foi uma possibilidade discutida em outros momentos. Além disso, ao perder o processo de compra do HSBC, alguns analistas entendem que o banco espanhol terá mais dificuldades para crescer no Brasil.

A compra do HSBC era uma das poucas oportunidades que restavam para que a instituição espanhola se aproximasse dos outros bancos no ranking do mercado. A venda do HSBC para o Santander teria significado uma mudança no cenário competitivo, fazendo o banco se aproximar dos bancos Itaú e Bradesco. 

Daqui por diante, uma última oportunidade para o Santander pode surgir caso o governo do Rio Grande do Sul decida privatizar o Banrisul. Esse seria o último banco a ter o poder de algum crescimento rápido para os espanhóis no Brasil, mas também não alteraria mais o ranking dos bancos.

 Foto: Infográficos/Estadão
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