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Banco é ousado ao responder acusações que lembram o filme ‘O Lobo de Wall Street’

Acusação de envolvimento com drogas e sexo recebe resposta ousada do banco Jefferies, que convocou diretores a teste

Por Andrew Ross Sorkin
Atualização:

"Procuramos nossos sócios do banco de investimentos no setor da saúde ontem à tarde e dissemos, `Nós vamos nos submeter a um teste para detectar a presença de drogas, vocês querem vir conosco?'"

Foi isso que Richard B. Handler, diretor executivo do banco Jefferies, escreveu num memorando aos clientes na semana passada, assinado também pelo presidente da firma, Brian Friedman.

O Lobo de Wall Street Foto: Divulgãção

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O tese de drogas, e o memorando, fazem parte da reação a escandalosas acusações feitas contra um diretor administrativo do braço envolvido no setor de saúde como parte de um processo de divórcio e disputa de guarda que se tornou a grande fofoca de Wall Street.

O diretor administrativo, Sage Kelly, foi acusado pela mulher, Christina, de abusar de "álcool, cocaína, cogumelos alucinógenos, special-k, heroína" e outras drogas como o ecstasy. Special-k é o nome pelo qual a quetamina é conhecida. De acordo com ela, em certa ocasião ele teria ficado "tão bêbado na festa anual da empresa para os membros do departamento da Jefferies & Co. a ponto de começar a urinar", citando vários funcionários e clientes da Jefferies que usariam drogas com o marido.

Talvez ainda mais chocante, ela afirmou que "durante uma noite de depravação, Sage instigou um encontro sexual no qual ele manteve relações com a namorada de um cliente, Marc Beer, e Marc teve relações comigo".

Kelly negou todas as acusações, e Beer, diretor executivo da Aegerion Pharmaceuticals, disse que o incidente jamais ocorreu. Os demais funcionários da Jefferies mencionados no processo também negaram envolvimento no uso de drogas com Kelly.

Ainda assim, as acusações se tornaram uma sensação no mundo financeiro e além, em parte por parecerem confirmar as piores suspeitas a respeito de uma indústria há muito retratada como dada a hábitos grotescos, como em filmes como O Lobo de Wall Street.

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O que nos leva de volta ao memorando de Handler e ao teste de drogas imprevisto. A atenção negativa dedicada a Kelly e Beer pode perdurar tanto por causa do potencial escandaloso das acusações quanto pela resposta inusitada da firma. Em vez de simplesmente fazer uma declaração padronizada dizendo que a empresa não tolera o uso de drogas, Handler defendeu Sage Kelly, envolveu-se pessoalmente em demonstrar que a empresa estava sendo difamada injustamente e acabou levando um pelotão de banqueiros a fazer um teste para detectar a presença de drogas no meio do dia depois de conversar com outros membros da equipe de Kelly.

"Nosso diretor global de investimentos e três outros banqueiros mencionados no processo de custódia como sendo usuários frequentes de drogas se levantaram e disseram, `Eu vou'", quando ele perguntou se viriam fazer o teste com ele, dizia o memorando. "Então, cada um dos nossos diretores de investimento em saúde se ofereceu para nos acompanhar. Não tinham sido mencionados em nenhum documento, mas optaram por fazer isso em solidariedade aos companheiros e também para mostrar que as alegações de uso frequente de drogas não passam de uma fabricação."

Há algo de autêntico e admirável na reação de Handler. Ele é um líder emotivo e de presença marcante; leva para o lado pessoal os assuntos envolvendo a firma, sem nenhum tipo de filtro. Gosta de enfrentar os desafios de frente.

Mas, nesse caso, sua paixão pode estar afetando a lógica. Ele excluiu a possibilidade da existência de um problema na empresa e até a hipótese de Kelly ter alguns demônios ocultos; nega-se a investigar a denúncia. Mas Kelly já admitiu ter usado drogas recreativamente no passado.

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Para alguns clientes, o memorando de Handler fez dele um herói apaixonado pela causa da empresa. Para outros, o memorando e o teste foram apenas uma bizarra manobra publicitária. (Apesar de algumas das acusações mais fortes de Christina Kelly, ela nunca chegou a sugerir que a sede a Jefferies seria algum tipo de cracolândia de alto padrão. O fato de os colegas de Kelly terem passado no teste de drogas é quase irrelevante.)

É possível que as acusações de Christina Kelly contra o marido sejam exageradas, ou até falsas. Ela está envolvida numa feroz batalha pela custódia dos filhos, e o marido revelou um vídeo dela cheirando cocaína como argumento para solicitar a custódia dos filhos. Ela não passou num teste de drogas e está procurando reabilitação.

Mas a decisão dela de fazer as acusações foi extrema, e terá consequências duradouras e potencialmente devastadoras para a vida dela, do ex-marido e dos filhos. Embora alguns pais mintam para os filhos, é difícil acreditar que o relato de Christina Kelly seja inteiramente ficção. Afinal, além das drogas, ela declarou publicamente que fez sexo com o cliente do marido. Independentemente da verdade, os filhos terão de ler isso. Os motivos dela e a verdade dos fatos podem jamais chegar ao nosso conhecimento. / Tradução de Augusto Calil

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