PUBLICIDADE

Publicidade

Bancos temem chegada de aplicativos e carteiras eletrônicas

Mudança liderada pela geração Y favorece novos serviços financeiros digitais e promete virar do avesso o setor bancário tradicional

Por Steve Lohr
Atualização:

Ryan Craine odeia andar com dinheiro no bolso e acha que preencher cheques é uma perda de tempo. E não faz mais nenhuma dessas coisas - hoje, ele normalmente usa o celular para pagar suas compras.

PUBLICIDADE

Craine, de 28 anos, que trabalha com suporte técnico em Washington, usa o Apple Pay nas lojas e restaurantes que já aceitam o aplicativo. Cerca de 20 vezes por mês, recorre à carteira digital Venmo, para transferir dinheiro de uma pessoa para a outra, pagar sua parte do aluguel, da comida, das compras e das contas da casa. Para refinanciar suas dívidas estudantis em 2015, recorreu à startup de empréstimos Earnest.

As escolhas financeiras de Craine apontam para uma mudança liderada pela geração Y em favor de novos serviços financeiros digitais, uma mudança de comportamento que promete virar do avesso o setor bancário tradicional. A popularidade desse tipo de serviço fez os grandes bancos correrem para se adaptar.

Investimento em startups focadas em mercados bancários cresceu para cerca de US$ 6,8 bilhões em 2015 Foto: Johannes Eisele/AFP

Se as instituições bancárias não estiverem à altura do desafio, alertou Brian Moynihan, executivo-chefe do Bank of America, em novembro, "essa parte do sistema pode ser retirada para sempre das nossas mãos".

Muito dinheiro tem sido investido nas startups de tecnologia financeira. E grandes empresas de tecnologia - Apple, Google, Amazon, Facebook e Samsung - estão se aventurando no sistema bancário para o consumidor final, geralmente começando por meio de aplicativos de pagamento digital.

O investimento global em startups focadas em mercados bancários cresceu para cerca de US$ 6,8 bilhões em 2015, de acordo com a empresa de pesquisa CB Insights. Isso representa mais do triplo dos US$ 2,2 bilhões registrados em 2014.

Todos os grandes bancos deram passos para se adaptar à nova realidade. O Citigroup, por exemplo, firmou uma parceria com o Lending Club, uma empresa de empréstimos on-line. Em outubro, o banco criou uma nova unidade, o Citi FinTech. Em um comunicado enviado aos funcionários, Stephen Bird, novo executivo-chefe de serviços globais para o consumidor, afirmou que o banco havia chegado a um "ponto fundamental", quando "as mudanças tecnológicas estão se intensificando" e "os concorrentes estão em toda parte".

Publicidade

Em uma entrevista, Bird afirmou que a nova unidade é a "ponta de lança" dos esforços do banco para se adaptar ao futuro. Segundo ele, o objetivo de longo prazo é fornecer uma série de serviços bancários e de gestão financeira que sejam tão fáceis de usar quanto chamar um carro do Uber e pagar pelo serviço.

"É uma grande oportunidade para nós se formos rápidos o bastante. Trata-se ao mesmo tempo de uma oportunidade e de uma ameaça", afirmou Bird.

Vanessa Montes de Oca, de 20 anos, vive em Covina, Califórnia, é estudante universitária e trabalha em meio período em uma loja do Sam's Club, a rede atacadista do Wal Mart. Ela tem uma conta no Chase Bank, mas usa apenas para receber o salário e pagar contas no débito; não tem cartão de crédito, pois acha que eles são o caminho certo para gastar além da conta e colocar as finanças em risco.

Por isso, Vanessa escolheu uma nova alternativa aos cartões de crédito, a Affirm, para usar em uma loja de roupas virtual, a UNIF. No ano passado, fez cinco compras na loja, gastando até US$460. Ela paga a Affirm em prestações que vão de três a 12 meses.

PUBLICIDADE

As informações que precisou dar à Affirm através do celular foram seu nome, endereço, número de telefone e os quatro últimos dígitos do número do Seguro Social. O crédito e a aprovação para a compra voltaram em poucos segundos.

Vanessa utilizou o aplicativo para smartphone da Affirm sem dificuldades. Segundo ela, o "serviço parece muito bom" - simples e rápido, com as parcelas e os termos expostos de forma clara. Aquela telinha, acrescentou, é o que usa para pagar as contas, se comunicar e procurar respostas. "Quase tudo que faço na vida passa pelo telefone", afirmou ela, que também usa o Venmo.

A migração para a computação móvel pode ser vantajosa para as startups exclusivamente digitais, uma vez que pessoas de todas as idades estão se sentindo cada vez mais confortáveis com o uso do smartphone como uma espécie de controle remoto das próprias finanças.

Publicidade

Serviços de gestão de patrimônio, por exemplo, visam um público um pouco mais velho. Na SigFig, startup com sede em San Francisco, Califórnia, que oferece serviços de assessoria de investimento on-line, o usuário médio tem 47 anos de idade. Mesmo assim, a parcela dos que utilizam o serviço por meio de aplicativos móveis tem crescido constantemente, chegando a 50 por cento.

"As pessoas têm um relacionamento diário com seus smartphones agora, e isso quase não depende mais da idade", afirmou Mike Sha, executivo-chefe da SigFig.

A Venmo está ficando cada vez mais popular, especialmente entre os membros da geração Y. O volume de pagamentos feitos através dela, que é uma unidade do PayPal, mais do que triplicou no último trimestre, chegando a US$2,1 bilhões.

A Venmo, de acordo com William Ready, vice-presidente sênior de produtos e engenharia do PayPal, está começando a chegar às outras gerações, à medida que os jovens convencem seus pais a usar o aplicativo para enviar dinheiro ou dividir as contas.

Ainda assim, esse processo está sendo um pouco lento. Craine, que trabalha com suporte técnico, pediu aos pais, que tem 50 e poucos anos, para que usem o Venmo. Mas eles ainda não se convenceram.

"Eu tentei, mas eles realmente têm medo de lidar com dinheiro desse jeito pelo smartphone", afirmou Craine.

The New York Times News Service/Syndicate - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.