O Banco Central começa a preparar o terreno para sinalizar ao mercado que não deverá cumprir a meta da inflação em 2012 e que busca atingir tal objetivo em 2013, avaliou o ex-diretor do BC Alexandre Scwhartsman. Ele fez o comentário em razão do texto da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), especialmente o parágrafo 18, no qual o ano de 2013 é citado duas vezes. Outro fator emblemático, segundo ele, foi a retirada, no parágrafo 30, da expressão "garantir a convergência da inflação para a meta em 2012", que estava na ata divulgada no dia 16 de junho.
"Lá na frente, o BC provavelmente vai dizer sobre a meta do ano que vem: 'Ih, tá difícil'", comentou. "O problema é que este tipo de sinal deve ter um efeito devastador sobre as expectativas de inflação para o próximo ano", afirmou, ressaltando que agora a mediana das projeções para o IPCA deve ir na direção de 5,5%. Na pesquisa Focus desta semana tal número estava em 5,28%.
Schwartsman pondera que a ata divulgada hoje tem poucas alterações em relação às anteriores. Na sua avaliação, chamou a atenção o fato de que o Banco Central manifestou que o cenário prospectivo para a inflação está melhorando, mas as projeções do BC, nos cenários de referência e de mercado, apontam que o IPCA não deve atingir a meta em 2012.
No relatório de inflação de março, a estimativa do cenário de referência era de 4,6% para o índice oficial no próximo ano, número que subiu para 4,8% no mesmo documento divulgado em junho. "Se o cenário para a inflação está melhorando, porque os números não mostram isso?", disse. "Deve ser mais uma percepção, um sentimento. Talvez tenhamos saído do campo da ciência e agora estamos no da fé."
Para o ex-diretor do BC, a ata faz uma menção mais discreta do que o esperado sobre a influência dos fatores externos que levaram o Copom a alterar de forma substancial o comunicado da última reunião, com a retirada da frase "período suficientemente prolongado."
Schwartsman destaca que no parágrafo 22 do texto divulgado há a frase "deterioração adicional dos mercados internacionais", que motivou alta da volatilidade e aversão a risco, alimentadas por elevados níveis de liquidez internacional e muitas incertezas relativas à velocidade de recuperação da economia mundial.
Segundo Schwartsman, é provável que o Banco Central avalie que o cenário de inflação está mais confortável em razão de alguns fatores, especialmente o arrefecimento dos preços das commodities. Mas, para ele, o descompasso entre demanda e oferta no mercado doméstico deve levar o IPCA para uma marca entre 6,3% e 6,4% neste ano, muito próximo do teto de 6,5%, e de 5,3% em 2012.
Na sua avaliação, ou o BC já parou de elevar os juros ou vai fazer apenas mais um aumento de 0,25 ponto porcentual no dia 31 de agosto, quando deve realizar uma pausa. Contudo, destacou, o Copom notará que a situação da inflação não está favorável e deve retomar a alta de juros no fim do ano, levando a taxa para um nível entre 12,75% e 13% até a última reunião do ano, que será encerrada no dia 30 de novembro.
Para Schwartsman, as projeções de agentes econômicos para a inflação de 2012 devem piorar nas próximas semanas também devido à comunicação do governo. Ele lembrou entrevista dada na semana passada pela presidente Dilma Rousseff, para quem o combate à inflação é prioritário, mas deve ser feito sem sacrifício do crescimento do País para atingir este objetivo. "Este tipo de sinalização (do Poder Executivo) causa impactos nas expectativas para cima", afirmou.