Vai piorar antes de melhorar. Essa é a principal mensagem transmitida pelo Relatório de Inflação do primeiro trimestre de 2015, divulgado ontem pelo Banco Central. É possível, porém, que as coisas, na economia brasileira, piorem mais do que o BC projeta no momento e as melhoras posteriores, embora plausíveis, ainda estão à espera de sinais mais nítidos e convincentes do que os até agora exibidos. Os principais indicadores para 2015 ficaram piores, em relação às projeções do Relatório de dezembro. Considerando o chamado cenário de referência (taxas de juros estáveis em 12,75% anuais e taxa de câmbio constante em R$ 3,15 por dólar), a inflação passou de 6,1% para 7,9% no ano e a variação do PIB, no fim de 2015, recuou de 0,2% positivo, há três meses, para uma contração de 0,1%. Com essas projeções, o BC continua atrás das previsões do mercado. No Boletim Focus desta semana, as previsões dos analistas privados apontavam para inflação de 8,12% e retração do PIB de 0,83%, em 2015. Como essas projeções ainda não parecem ter batido no teto, caso da inflação, e no fundo do poço, caso da variação do PIB, é possível que as estimativas do BC também não tenham encontrado, no Relatório do primeiro trimestre, o seu ponto de estabilidade. Projeções de analistas experientes indicam que a contração da economia pode chegar, ao fim de 2015, ao dobro e até ao triplo do que o BC está prevendo no momento. O BC descreve, em relação à inflação, um cenário mais benigno para a dinâmica da inflação, a partir de 2016, com convergência da variação do IPCA na direção do centro da meta. Para sustentar essa perspectiva, o atual Relatório confere importância e espaço à avaliação dos mecanismos de repasse da correção dos preços administrados e, sobretudo, da taxa de câmbio aos preços. Em dois boxes - suplementos detalhados de temas específicos - que acompanham o Relatório, o BC alinha a fraca atividade econômica, as políticas fiscal e monetária restritivas e a queda nas cotações internacionais das commodities entre os elementos capazes de circunscrever, em grande parte, ao curto prazo efeitos inflacionários do realinhamento de preços relativos.