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Bem-vindo às eleições de 2018

Candidatos terão de se haver com instituições disfuncionais e democracia em baixa

Por Luiz Hanns
Atualização:

Para transpor-se a 2018, não olhe só para os partidos. Atente para cinco grandes anseios populares. Eles estão se despregando das agremiações que os veiculavam e buscando novos abrigos. Deles dependerá o curso das eleições e das reformas.

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O primeiro desses anseios é contra a globalização financeira e industrial, tem eco na jovem classe média. Inspira-se em fontes como Butão, Greenpeace e Occupy Wall Street. Tem seguidores na Rede, no PV, PSB e na esquerda universitária. Rejeita o consumismo e almeja tecnologias amistosas, ecológicas e qualidade de vida.

O segundo, é anti-imperialista e visa a inclusão social. Defende estatizar empresas, produção em massa, subsídios sociais e comerciar com países não-alinhados. Inspira-se na Venezuela, Cuba e tem partidários nos PCs, PSOL, MST, movimentos sociais e sindicais.

O terceiro, avesso ao liberalismo, é estatista e nacionalista. Quer turbinar o capitalismo brasileiro e firmar-nos como potência. Espelha-se na China e Coréia do Sul. Lula e Dilma tomaram essa via com sua política de campeões nacionais, crédito amplo e intervencionismo.

Essas três vertentes agruparam-se em torno do PT, que se enraizou pelo eleitorado, vencendo seguidamente duas outras disposições populares: a conservadora e a eficientista.

A vocação conservadora, é saudosa da ordem, dos usos e costumes. Entre outros, Bolsonaro e políticos evangélicos a representam, distribui-se por partidos de direita e de centro.

A aspiração eficientista almeja a competência gerencial implícita no discurso do PSDB paulista. Lula tentou tomá-la, colando em Dilma o mote da gerente competente. Hoje Dória busca veicular este anseio.

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Mas parte dos partidos vocacionados a representar estas cinco demandas vêm sendo rejeitada por corrupção, má gestão, ou radicalismo. E um intenso clamor ético se ajuntou aos anseios. Renovações, e trocas se impõem.

Daí triplo anseio, ainda popular apesar do revés petista, vacilar sobre onde se abrigar e se deve continuar unido. Também a disposição eficientista, agora em alta, anda evitando partidos fisiológicos e setores tidos como elitistas ou oportunistas. E os conservadores têm se afastado dos fanáticos. Até mesmo a vertente ética tem buscado viabilidade eleitoral fora dos grupos puristas.

Em 2018 todas essas aspirações encontrarão os grandes partidos já repaginados, novas siglas “não-políticas”, bem como partidos de extrema direita e esquerda, e uma paisagem extra-partidária atravessada por movimentos populares, ondas evangélicas e aventureiros tentando a sorte. Daí emergem quatro resultados eleitorais.

No primeiro, o triplo anseio não se fragmenta, aloja-se num PT renovado, no PSOL, ou em outra sigla, galvaniza a resistência às reformas e ganha as eleições.

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Nesse caso, se a vertente antiglobalização dominar, pode adotar propostas do movimentismo europeu (Podemos da Espanha, Syriza da Grécia). Se o anti-imperialismo preponderar, pode prevalecer a face chavista. Nos dois casos o ambiente se radicaliza e as reformas poderiam ser desfeitas. Ou, uma versão pragmática do estatismo nacionalista é eleita agregando à campanha um discurso eficientista. E como o governo petista de 2003, se compromete a manter uma parte das reformas (o PT o fez até a queda de Palocci).

No segundo cenário, um arco conservador e moralista vence defendendo um eficientismo autoritário. Reprimiria a diversidade, hostilizaria a esquerda e tentaria impor as reformas ao invés de negociá-las, o que dificultaria sua aceitação.

No terceiro, um comunicador eficientista se elege a bordo de uma nova sigla, ou de um PMDB, PSDB, Rede ou PSB renovados. Só avançaria com as reformas, se não rejeitasse o triplo anseio da esquerda, mas incorporasse parte dele.

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Ou ocorre a vitória de um candidato da probidade ética com mandato de passar o país a limpo. Nessa hipótese investigações de corrupção e julgamentos se amplificam e as reformas são suspensas por alguns anos.

 Como se vê, um caleidoscópio de inúmeros arranjos. Mas, pragmáticos, ortodoxos ou oportunistas, todos terão de se haver com instituições disfuncionais, democracia em baixa e a falta de um pacto distributivo.

Bem-vindo às eleições de 2018.

* PSICÓLOGO E ANALISTA DE COMPORTAMENTO

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