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BNDES deve privilegiar pequenas empresas

Novo presidente, Rabello de Castro diz que demanda baixa provocou desembolso menor

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - O futuro presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, afirmou que o presidente Michel Temer lhe pediu preocupação especial com o crédito para médias, pequenas e microempresas (MPMEs). Em meio à controvérsia que envolve financiamentos e aportes bilionários da instituição para o grupo JBS, entre outros, o economista contrapôs o foco nas empresas de pequeno porte à distribuição de empréstimos a grandes grupos.

O economista Paulo Rabello de Castro, sucessor de Maria Silvia Bastos Marques no BNDES Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

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“Queremos mais fazedores anônimos do que grandes marqueteiros ostensivos. O Brasil anônimo precisa ser apoiado, não subsidiado”, afirmou Rabello de Castro, que atualmente dirige o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele se reuniu com Temer de manhã, em Brasília.

Joesley Batista, um dos controladores do JBS, gravou secretamente uma conversa com o presidente Michel Temer, desencadeando nova crise. A política de apoio a megagrupos, chamados “campeões nacionais”, marcou os governos petistas, encerrados no ano passado com o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Rabello de Castro afirmou ainda que a queda nos desembolsos da instituição ocorre porque a procura por crédito “andou rareando nos últimos 12 ou 24 meses”.

Novo presidente do BNDES defende 'juro de mercado' em empréstimos do banco

“Em qualquer fase recessiva, as instituições financeiras têm atitude mais restritiva do crédito”, disse Rabello de Castro, em entrevista pouco antes da cerimônia de lançamento da Agência IBGE Notícias, no Rio. “Quando junta demanda rala com reforço a regras de prudência, o resultado final é menos crédito concedido”, disse o economista.

O economista destacou que o arrefecimento da inflação permitirá uma queda na taxa básica de juros, abrindo oportunidade para um novo ciclo na economia. Isso não quer dizer, afirmou, que o BNDES deveria ter atuação contracíclica, ampliando linhas de crédito em momentos de contração na atividade.

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Segundo ele, ciclo e contraciclo são fases normalmente curtas, medidas em “grupos de trimestres”. Nesse quadro, o BNDES é uma instituição de “ciclo longuíssimo”.

“Não estou vendo contraciclo nenhum no investimento de longo prazo. Vejo um mergulho estrutural nos investimentos”, afirmou. “A pergunta é por que os investimentos não acontecem com o vigor que deveriam ter, num País que deveria ser uma locomotiva de formação de capital.”

Rabello de Castro disse que sua posse no banco poderá ser na próxima quinta-feira, mas isso ainda depende das agendas dos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira. O economista sinalizou que manterá a atual diretoria do BNDES, formada por Maria Silvia Bastos Marques, que ficou um ano no cargo de presidente.

“Tenho certeza absoluta que a melhor garantia da minha eventual futura administração no BNDES se chama Maria Silvia Bastos Marques”, disse Rabello de Castro. “Certamente recebo uma casa que enfrenta desafios, mas uma casa arrumada”, completou.

A participação de Rabello de Castro nos eventos de ontem do IBGE teve tom de despedida. O economista disse que foi convocado para uma missão por Temer, de quem é amigo.

“Era um homem feliz, ao poder coordenar os trabalhos do IBGE. Parto para o sacrifício, mas parto esperando que cada um de vocês tenha paciência com esse meu gesto”, afirmou, ao discursar a funcionários do IBGE.