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BNDES terá mais peso na Oi

Bancos brasileiros serão os maiores acionistas individuais da supertele que nascerá da fusão entre Oi e Portugal Telecom

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

A quarta maior operadora de telefonia do País, a Oi, está prestes a destravar a fusão com a Portugal Telecom (PT), anunciada em outubro passado. Para os acionistas brasileiros da tele, essa seria uma grande oportunidade de deixar a empresa, que hoje acumula dívidas de R$ 46,2 bilhões. Mas com uma sucessão de atropelos envolvendo os sócios portugueses nos últimos meses, a operação foi colocada em xeque, passando por uma série de mudanças, e o ‘enrosco’ que se tornou a Oi deve acabar ficando nas mãos de dois importantes acionistas: o BNDESPar, braço de participação do BNDES, e o banco BTG Pactual, do banqueiro André Esteves. 

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Sobrou para eles o papel de acionistas individuais mais relevantes entre os investidores brasileiros na companhia que vai surgir da fusão, quando ela for concluída até o fim do primeiro trimestre de 2015. 

A mudança nos termos originais da fusão ocorreu depois que veio à tona, em junho, o escândalo envolvendo a cifra de897 milhões que saiu do caixa da PT direto para uma empresa do Grupo Espírito Santo, que estava passando por sérios problemas financeiros e tem participação na operadora. Isso fez com que os portugueses perdessem espaço na “Nova Oi”. A fatia deles caiu de 37,4% para 25,6%,

Na estrutura dessa supertele, o BNDESPar deve ficar com 5,8% e o BTG, com 4,36%, conforme apurou o Estado com fontes familiarizadas com o assunto. Os dois bancos são os que têm maior fôlego financeiro. 

O BTG é acionista da Oi por meio do fundo Caravelas, que detém 7,7% do capital. Nessa fatia também estão incluídas as participações do fundo Atlântico (dos funcionários da Oi), da La Fonte (do grupo Jereissati) e da Andrade Gutierrez. Os fundos Previ, Petros, Funcef e Fundo Atlântico completam o bloco dos brasileiros, que somados ficarão com até 16% do total. Entre os investidores institucionais, o fundo canadense Ontário é o mais relevante, com 6,1%.

Essas são as fatias estimadas até o momento, mas podem ser alteradas até a incorporação definitiva, quando a empresa for listada no Novo Mercado da BM&FBovespa. 

Oi e BTG não comentam. O BNDESPar disse que não será o maior acionista individual e que sua fatia na “Nova Oi” será de 4,7%, inferior à do Caravelas.

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Mais do que uma disputa para saber quem dá as cartas na “nova Oi”, os acionistas buscam um novo rumo para a operadora. “O governo brasileiro quer manter a Oi viva, porque colocou dinheiro na companhia para criar uma campeã nacional. Ele sabe que a empresa tem uma gestão operacional fraca e está financeiramente comprometida. Já o BTG, que coordenou e participou do processo de aumento de capital da companhia com um pool de bancos para viabilizar a fusão, também está perdendo dinheiro”, disse uma fonte do mercado financeiro, lembrando que as ações ordinárias à época da capitalização, no fim de abril, valiam R$ 2,17 e hoje estão em torno de R$ 1,70. 

O BNDESPar entrou no capital social do grupo Telemar Participações durante a privatização das teles no fim dos anos 90, quando a companhia passou a atuar em telefonia fixa. Em 2002, o grupo lançou a Oi para atuar no segmento móvel. Dois anos depois, a Telemar unificou as operações fixa e móvel. Seguindo o movimento de consolidação, adquiriu a Brasil Telecom em 2009. E, três anos depois, fez uma simplificação societária, criando a Oi S/A. 

De 2009 para cá, a Oi contratou R$ 9 bilhões em financiamentos com o BNDES para projetos de investimentos. Parte desse valor ainda não foi liberada. 

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Os portugueses, liderados pelo Banco Espírito Santo, maior sócio português, se consideravam líderes dessa fusão. Em bloco, ainda continuam sendo os maiores, mas o poder de voto está limitado a 7,5% do capital. Agora, com o banco à deriva, os outros sócios da PT tentam assumir as rédeas. Rafael Mora, vice-presidente da RS Holding, dono da rede de mídia Ongoing, e Paulo Varella, do Visabeira, holding de participações em empresas, assumiram esse papel. “Fomos obrigados pelas circunstâncias”, diz Mora.

Nessa queda de braço, os brasileiros, representados pela Andrade Gutierrez e La Fonte, dão a palavra final. “Hoje a empresa ainda é de dono, controlada pela Telemar ”, diz Fernando Portella, presidente da La Fonte. O BNDES, no entanto, tem poder de veto em decisões importantes.

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