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Brasil e Argentina fazem 'coro' contra FMI

Confrontados com projeções pessimistas, países foram os únicos a contestar dados

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Por Rolf Kuntz
Atualização:
Tombini (E), que representou Mantega, e o argentino Kicillof: críticas ao FM Foto: /Jose Luis Magana/AP

 WASHINGTON - Só o ministro Guido Mantega e seu colega argentino Axel Kicillof, representantes de dois dos países com pior desempenho econômico da América do Sul, contestaram as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) – crescimento de apenas 0,3% para o Brasil neste ano e 1,4% no próximo e contração de 1,7% para a Argentina, seguida de mais um resultado negativo de 1,5% em 2015.

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Só um país sul-americano, a Venezuela, aparece em pior situação no quadro regional. Pelas últimas estimativas, seu Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher nos dois anos, primeiro 3% e depois 1%. Os três países combinam baixo nível de atividade e alta inflação e dois deles, Argentina e Venezuela, enfrentam escassez de reservas cambiais.

Além de pôr em dúvida as projeções do FMI, Kicilloff descreveu a economia de seu país como “resistente” e atribuiu essa qualidade a “políticas macroeconômicas prudentes”. A resistência se mantém, segundo ele, “apesar das incertezas econômicas nas economias avançadas e da forte especulação interna”.

Depois de seis meses de contração, a economia argentina cresceu 0,9% no segundo trimestre, mas voltou a perder impulso no terceiro trimestre. “Hoje enfrentamos uma desaceleração do crescimento”, disse o ministro, “causada principalmente pela contração da atividade de nossos principais parceiros econômicos”. O maior parceiro econômico da Argentina é o Brasil.

Crise internacional. Ao se manifestar sobre as projeções do FMI, Mantega atribuiu os problemas econômicos do Brasil aos países avançados. Na declaração preparada para a reunião, ele incluiu também a China, menos dinâmica que em outros tempos, embora ainda vigorosa. Também mencionou a seca no texto divulgado na sexta-feira. Kicillof segue basicamente o mesmo padrão, mas inclui o Brasil entre as fontes de problemas da Argentina. O ministro da Fazenda não compareceu à reunião do FMI neste ano; entre os representantes do Brasil estava o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini.

Mantega rejeitou os cálculos do FMI, mas se absteve de apresentar as próprias estimativas. Kicillof passou longe de qualquer referência à taxa de inflação em seu país, situada na faixa de 25% a 30% por economistas do setor privado. Mas citou a cooperação com o Fundo para a elaboração de um índice nacional considerado confiável. Por enquanto, as estimativas de aumento de preços na Argentina para 2014 e 2015 estão em branco, nas tabelas do FMI.

Brasil. Citado várias vezes durante a semana por seu baixo crescimento, pela alta inflação e por seus problemas de competitividade, o Brasil foi mais uma vez lembrado, ontem, na declaração preparada para o encontro pelo secretário geral da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurría. Ao descrever os desafios diante dos vários grupos de países, mencionou Brasil e Índia como os grandes emergentes mais necessitados de “melhoras duradouras” nas contas públicas.

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O Brasil, segundo ele, deveria redefinir as normas de política fiscal, adotando, por exemplo, uma regra de gastos vinculada ao ciclo econômico. Com isso seria mais fácil, argumentou, dar credibilidade a um compromisso de reforço do superávit primário durante a recuperação da economia.

A maior parte das declarações preparadas para a reunião do Comitê Monetário e Financeiro, órgão responsável pela fixação de diretrizes para o FMI, discute os problemas da recuperação global e o risco de um prolongado período de baixo crescimento. Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália têm avançado com vigor, em contraste com a zona do euro e o Japão.

O FMI recomenda à união monetária europeia um ajuste fiscal mais longo, com espaço para estímulos no curto prazo, e a manutenção, pelo Banco Central Europeu (BCE), de uma política favorável à reativação dos negócios. Também recomenda – com apoio americano – políticas mais voltadas para o consumo nos países com amplos superávits nas contas externas, como a Alemanha e a China.

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O governo alemão tem resistido ao afrouxamento de sua política fiscal e continua recomendando cautela na condução da política monetária da região. O presidente do BCE, Mario Draghi, reafirmou o compromisso de adotar medidas mais audaciosas para estimular a economia, se isso for necessário.

Cotas de governança. Ministros de países desenvolvidos e emergentes acompanharam a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, numa cobrança dirigida ao Congresso dos Estados Unidos. Aprovada no Fundo em 2010, a nova reforma do sistema de cotas e da governança foi engavetado pelos congressistas americanos. A reforma foi apoiada pela Casa Branca mas está empacada no Legislativo. Ontem, o secretário do Tesouro, Jack Lew, reafirmou a disposição do presidente Barack Obama de trabalhar pela aprovação da proposta.

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