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Brasil paga juros altos por causa da corrupção, diz O´Neill

Por Agencia Estado
Atualização:

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O´Neill, disse que o Brasil paga juros altos porque o mercado receia a corrupção, a insegurança e a falta de respeito à lei. O Brasil, segundo o secretário, tem feito coisas maravilhosas, mas falta algo para que possa ter acesso a crédito mais barato. A afirmação foi feita durante um almoço com participantes do Fórum Econômico Mundial. O comentário foi a resposta a uma pergunta do investidor George Soros. O empresário quis saber como O´Neill podia explicar que se cobrassem juros tão altos do Brasil, em vista das políticas adotadas e dos resultados positivos apresentados pelo País. Soros discorda Soros não quis, inicialmente, comentar a afirmação de O´Neill, mas admitiu ao Estado que discordava e que a explicação era outra: o mercado discrimina entre países do "centro" e da "periferia". É uma característica do sistema, afirmou. O presidente do Banco Central do Brasil, Armínio Fraga, foi informado do comentário de O´Neill cerca de uma hora mais tarde, enquanto participava de uma discussão sobre a perspectivas da economia mundial. Preferiu não comentar a declaração sem tê-la ouvido diretamente. Um executivo de uma grande empresa brasileira, que havia participado do almoço com o secretário, disse concordar com sua resposta. No mesmo almoço, O´Neill comentou a crise argentina e disse que os Estados Unidos podem apoiar a ajuda ao país, se o presidente Eduardo Duhalde e sua equipe apresentarem um programa econômico sustentável. Crítica ao FMI e Banco Mundial O caso argentino foi mencionado como exemplo de políticas ruins que se prolongam graças ao apoio da comunidade internacional. As instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário e o Banco Mundial, têm agido como bombeiros, sempre dispostos a levar socorro a quem adotou políticas erradas, disse o secretário. Os contribuintes, que são afinal os que fornecem dinheiro para o socorro, estariam mais dispostos a ajudar, segundo o secretário, se observassem resultados positivos do auxílio concedido. O´Neill lembrou que o governo argentino negociou um financiamento de US$ 40 bilhões no final de 2000, conseguiu depois mais US$ 23 bilhões e voltou a procurar dinheiro meses depois. Executivo argentino condena protecionismo Um executivo argentino levantou-se, na fase das perguntas, e observou que seu país não tem conseguido exportar produtos em que é competitivo, como produtos agrícolas e alimentos, por causa da proteção nos mercados ricos. O Congresso americano, disse o executivo, dá mais um sinal negativo ao mundo, ao pretender que o poder de negociação comercial do presidente George W. Bush seja limitado. O´Neill contornou a questão, dizendo que muitos países têm dificuldades para adotar políticas mais liberais de comércio agrícola, porque em várias sociedades há uma relação romântica com a terra. O próprio secretário havia chamado atenção para os juros altos que os países pobres e emergentes são forçados a pagar, mas atribuiu essa circunstância à má qualidade das políticas e às deficiências políticas e instituicionais desses países. Nenhum país, segundo O´Neill, pode competir na produção de riquezas, pagando taxas anuais de 18%, quando outros têm custos financeiros de 6% ou menos. As instituições financeiras internacionais, segundo o secretário, deveriam exercer principalmente o papel de conduzir aquelas economias ao status de "investment grade". Este é o status dos países com melhor posição nas classificações de risco do mercado financeiro. Citou, em seguida, uma série de reformas liberais necessárias para esse resultado. Manifestou confiança na capacidade produtiva de todos os homens e mencionou os resultados obtidos pela companhia por ele dirigida por vários anos, a Alcoa, em vários países em desenvolvimento. Citou os resultados obtidos no Brasil, com o treinamento de pessoas que "viviam no século 14". Crescimento Mais tarde, numa reunião sobre perspectivas da economia mundial, O´Neill afirmou que os Estados Unidos têm condições de retomar o crescimento em breve e de sustentar uma expansão anual de 3,5% por tempo indefinido. O professor Alan Blinder, de Princeton, tambem mostrou otimismo. Segundo ele, há condições para uma retomada rápida e vigorosa, porque a política monetária é expansionista, assim como a política fiscal, e os preços da energia baixaram. Já houve, desde o início da recessão, uma redução de estoques de aproximadamente US$ 100 bilhões e isso deve favorecer a reativação da indústria. Quanto aos consumidores, continuam manifestando boa disposição de ir às compras. Desde quinta-feira, as possibilidades de recuperação da economia americana vinham sendo um dos principais temas discutidos. A maior parte dos debatedores mostra otimismo, mas há quem afirme que a reação ainda não começou e poderá demorar. É a opinião de Stanley Rocha, economista-chefe do banco de investimento Morgan Stanley, que está participando de várias sessões do Fórum.

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