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Brasil precisa 'agir' logo, diz Durão Barroso

Presidente da Comissão Europeia alerta que demora para um acordo bilateral pode pôr em risco interesse europeu pelo mercado brasileiro

Por Antonio Pita , Idiana Tomazelli e Vinicius Neder
Atualização:
Para Durão Barroso, "Brasil é o ponto mais importante do Mercosul" Foto: Antonio Lacerda/EFE

RIO - O presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, afirmou ontem que o Brasil precisa agir "logo" para consolidar um acordo comercial com o bloco europeu.

Em tom de provocação, a autoridade máxima do órgão executivo da União Europeia (UE) destacou que "houve casos" nos quais não foi possível fechar acordos com vários países ao mesmo tempo e que a demora pode pôr em risco o interesse das economias europeias no mercado brasileiro, em função do acordo em gestação com os Estados Unidos.

Ainda assim, Durão Barroso avaliou que o País tem papel "essencial" nas parcerias com a Europa. Para ele, "parece absurdo" que o Brasil ainda não tenha concluído negociações bilaterais com a UE, quando o bloco já tem parcerias com economias menores, como Coreia do Sul, Cingapura, Colômbia, Peru e Equador. O assunto foi tratado em reuniões com a presidente Dilma Rousseff.

"Me parece um bocadinho absurdo que a UE tenha acordo de livre-comércio com o mundo inteiro menos com o Brasil. O Brasil é o ponto mais importante do Mercosul", afirmou Durão Barroso, em palestra na Fundação Getúlio Vargas, no Rio.

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Mais tarde, em outro evento no Rio, o presidente da Comissão Europeia comparou as negociações entre Mercosul e UE com as conversas entre o bloco europeu e a Comunidade Andina, formada por Peru, Colômbia, Equador e Bolívia. "Só tivemos uma resposta positiva do lado da Colômbia e do Peru. A Bolívia e o Equador ficaram de fora, disseram que não estavam preparados. Agora, na semana passada, o Equador chegou a um acordo conosco", disse Durão Barroso.

União aduaneira.

Apesar da provocação, o presidente da Comissão Europeia pareceu ignorar, em suas declarações, que o Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e, mais recentemente, Venezuela, é uma união aduaneira, assim como a UE. Por suas regras, um país não pode fechar acordos bilaterais sem a participação dos demais. Há flexibilidade apenas para cada país adotar um cronograma de implementação da redução de tarifas.

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Mauro Laviola, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, esclareceu ao Estado que a Comunidade Andina é uma área de livre-comércio, e não uma união aduaneira. Portanto, no casos dos países andinos, há mais flexibilidade para a negociação de acordos comerciais.

A prioridade para uma articulação integrada com os países latino-americanos é defendida pelo Brasil, mas as negociações estão paradas há 14 anos por divergências internas do Mercosul. Os europeus preferem acordos bilaterais, mas, ontem, Durão Barroso foi diplomático: "Gostaríamos de ter um acordo com o Mercosul no seu conjunto. Agora, compete aos países do Mercosul dizerem se sim, estão prontos para avançarem em conjunto". Para o presidente da AEB, José Augusto Castro, o fato de o Mercosul ser uma união aduaneira e de todas as decisões precisarem de unanimidade é um entrave. "A economia do Brasil é muito diferente", disse Castro, completando que seria melhor se a Venezuela não estivesse no bloco.

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