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‘Brasil precisa de agenda pró-investimento e produtividade’

Por Carla Araujo , Karla Spotorno (Broadcast) e Mário Braga
Atualização:
Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria e ex-presidente do Banco Central Foto: Clayton de Souza/Estadão

Passados cem dias do início do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff pode comemorar um avanço. Há maior transparência na política fiscal, na avaliação do sócio da Tendências Consultoria e doutor em Economia, Gustavo Loyola.

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Isso não significa, entretanto, uma ruptura irrestrita com as práticas equivocadas do primeiro mandato. "A maneira pela qual o governo lidou com a greve dos caminhoneiros exemplifica o tipo de erro que a presidente cometeu (nos últimos quatro anos)", diz Loyola.

Para fomentar o crescimento no ano que vem, o governo precisa atuar em duas frentes. A primeira é consolidar a política econômica e recuperar "o tripé macroeconômico que foi destruído na gestão Mantega e Arno Augustin". A segunda é adotar uma agenda de investimento e produtividade.

Abaixo você confere a opinião do sócio da Tendências e ex-presidente do Banco Central nessa entrevista de apenas três perguntas dentro da série especial do Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, sobre os cem dias do governo Dilma 2. 

Qual o principal avanço e o principal retrocesso nesses Cem Dias de Dilma 2?

Gustavo Loyola: O principal avanço foi a transparência na política fiscal. Vimos pelas divulgações recentes e pelas medidas que foram adotadas pelo Levy que a contabilidade criativa acabou e que agora estamos num processo de recuperação de credibilidade nos rumos da política fiscal. Isso é tão importante quanto o ajuste fiscal. No passado, houve não só o aumento do descontrole, mas também uma contabilidade criativa que tirou toda a transparência. É bom lembrar que, para os investidores, o pior de tudo é a falta de transparência.

Não sei se a palavra certa seria retrocesso. Mas a maneira pela qual o governo lidou com a greve dos caminhoneiros foi exemplar do tipo de erro que a presidente cometeu no primeiro mandato. A solução para a greve dos caminhoneiros foi basicamente uma mudança na regra do pedágio e o perdão a multas por excesso de peso. Essa decisão muda as regras do jogo e provoca um aumento da insegurança jurídica. E, vale lembrar de novo, o que o investidor mais precisa é de transparência, clareza nas regras.

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Nesses cem dias, o sucesso do ajuste fiscal dependeu, principalmente, da credibilidade no ministro da Fazenda. Como o senhor acredita que será daqui para frente?

Gustavo Loyola: Entendo que vai depender do resultado que for apresentado daqui para frente. Estamos no início de uma discussão complicada no Congresso. E a grande questão que se coloca é como a articulação política vai funcionar. Na prática, o articulador político é o (ministro da Fazenda, Joaquim) Levy. Quem deveria fazer (a articulação política) não faz. Embora tenha aumentado o otimismo em relação ao ajuste fiscal, eu diria que a expectativa geral agora é cautela. O Ministério da Fazenda pode segurar os gastos na boca do caixa. Mas esse tipo de ajuste não é sustentável e é de baixa qualidade, porque penaliza o custeio e os investimentos.

Entendo, sim, que, no início do governo, a confiança no sucesso do ajuste fiscal se devia basicamente ao Levy. Porque o entendimento era que ele aceitou (o convite para ser ministro) para fazer um trabalho sério e de ajuste fiscal. A presidente tem dado todo o apoio porque tem um cálculo político bem racional por trás. Ela está com a popularidade muito baixa não apenas pelo escândalo de corrupção mas também pela situação econômica ruim. Assim, quanto mais rápido houver uma recuperação, melhor. Ela é refém de bons resultados na economia.

O que o governo precisa fazer neste ano para alavancar o crescimento econômico a partir de 2016?

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Gustavo Loyola: Acho que o governo tem de atuar em duas frentes importantes. A primeira é a frente de política macroeconômica. Estou falando de ajuste fiscal e política monetária que levem à redução da inflação e melhora das expectativas para colocar de novo no lugar o tripé macroeconômico que foi destruído na gestão (Guido) Mantega e Arno Augustin.

A segunda frente seria adotar uma nova agenda de investimento e produtividade, sabendo que esse é um tema muito prejudicado no curto prazo por causa da Petrobrás. 

Entendo que, nesse momento, não há como fazer grandes reformas. Mas o governo pode adotar medidas que, no seu conjunto, incentivem o investimento do setor privado e eliminem algumas barreiras que prejudicaram a melhora da produtividade. 

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O Brasil precisa de políticas que tenham como objetivo aumentar o crescimento de maneira horizontal. É preciso adotar práticas que melhorem o ambiente de negócios, que desburocratize, facilite o funcionamento da economia capitalista moderna e que leve o Brasil voltar a ser atraente para o estrangeiro. Uma medida é reverter a tendência protecionista vista nos últimos anos e rever a política comercial, que nos deixou à margem de acordos comerciais. 

Há muita coisa para mudar. Mas tantas mudanças não fazem parte do meu cenário-base. Não vejo uma grande mudança no ambiente econômico que faça o Brasil retomar a rota para um crescimento bem robusto. Tomara que eu esteja errado.

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