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Brasil só exporta mais para os EUA

Com ajuda do câmbio, vendas de manufaturados para os EUA cresceram, mas recuaram nos outros quatro principais destinos

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A maior desvalorização do real frente ao dólar, em relação a outras moedas, favorece as exportações brasileiras para os Estados Unidos. Entre os cinco principais parceiros comerciais do País, as vendas de manufaturados ao mercado americano foram as únicas que cresceram neste ano. A alta verificada de janeiro a maio foi de 3%, enquanto para a China e para a Europa caíram 19% e para o Mercosul, 15%. Para os países da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) a redução foi de 9%. Nos últimos 12 meses até junho, o real teve uma desvalorização de 28% em relação ao dólar. Frente ao peso argentino, a perda de valor da moeda brasileira chegou a 20%. Ante o iene japonês e o euro, foi de 13%. Além da desvalorização, o crescimento da economia americana tem impulsionado negócios para o Brasil e outros países. “Nossa moeda hoje está mais competitiva e os EUA são o primeiro mercado que começa a apresentar reações depois de um longo período de queda nas exportações”, diz o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, que acompanhou a comitiva da presidente Dilma Rousseff aos EUA nesta semana.

A fabricante de autopeças Eaton espera voltar a exportar 15% de seus produtos para o mercado americano Foto: Divulgação

A Eaton, fabricante de autopeças com sede nos EUA e fábrica em Valinhos (SP), espera que as vendas para os americanos, que hoje representam 5% das exportações da subsidiária, cresçam mais dois pontos este ano e cheguem a 7%. Ao longo dos próximos três anos, a meta é recuperar a participação de 15% de anos atrás, afirma Antonio Galvão, presidente do Grupo Veículos da Eaton na América do Sul. O grupo exporta transmissões para caminhões e válvulas de motores mas, nos últimos anos, viu seus produtos perderem competitividade principalmente para o México, a Índia e a China. Até o fim da década passada, a filial tinha 30% de sua produção voltada ao mercado externo, sendo que 15% iam para os EUA. “Hoje, 15% das vendas são para exportação e apenas 5% para os EUA, mas começou uma virada”, diz Galvão. Segundo ele, a desvalorização do real tem aberto novas oportunidades, principalmente nas exportações para as empresas do próprio grupo. “Se conseguirmos ser mais competitivos do que o México e a Ásia, nossas chances aumentam.” Em agosto, a fabricante de roupas para crianças Mini U.S., de São Paulo, participará pela primeira vez da Children’s Club, feira especializada em produtos infantis em Nova York, na tentativa de conquistar um pedaço do mercado americano. Produtos da marca têm entre seus atrativos o uso de tecidos biodegradáveis. “Essa linha já tem etiqueta e tag explicativa em inglês”, informa Tico Sahyoun, dono da marca. Segundo maior destino de produtos brasileiros depois da China, os EUA estão entre os poucos países que registram crescimento econômico e, por isso, demandam mais produtos. Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o peso da desvalorização ainda não é significativo, em razão da alta de custos - como de energia e folha de pagamento -, mas, sem ela, “o cenário seria muito pior”. Ele diz que as exportações só são rentáveis se a desvalorização compensar aumentos de custos.Rentabilidade. Dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), mostram que, em 2014, dos nove principais grupos de produtos exportados aos EUA, só um teve rentabilidade negativa, o de extração de petróleo. Para outros grupos, como o de equipamentos de transporte e metalurgia, houve rentabilidade de 29,7% e de 19,7%, respectivamente. Nas exportações para a China, apenas dois de seis grupos de produtos tiveram rentabilidade. Para a Argentina, os oito principais itens da balança comercial foram negativos. O mesmo ocorreu com os nove grupos de itens exportados para a Europa. “De fato, está mais interessante exportar para os EUA, pois nos setores em que o Brasil tem maior participação o câmbio já está compensando o preço e o custo”, avalia Daiane Santos, economista da Funcex. Embora reconheça que a desvalorização do real seja mais favorável às vendas para os EUA, o diretor da consultoria GO Associados, Fabio Silveira, diz que as empresas não devem focar apenas nesse mercado. “O ideal é ser mais diversificado”, diz Silveira. “Nossa esperança para os próximos dois anos é o setor externo e o País precisa ter uma política mais forte de exportação.” Para ele, o pacote de medidas anunciado pelo governo na semana passada precisaria ser mais elaborado, com redução de carga tributária e incentivos a alguns setores. Diego Bonomo, gerente executivo de comércio exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirma que o câmbio ajuda, embora seja menos relevante do que há dez anos. Hoje, a cadeia de fornecedores é mais globalizada e as empresas importam muitos insumos, fator que pesa desfavoravelmente com a desvalorização do real. Por isso, ele vê mais vantagens nas exportações de empresas de menor porte, que utilizam matéria-prima local.Melhora. Fabricantes de calçados, que têm os EUA como principal destino das exportações, registram queda de 4,8% nas vendas ao país até maio. Para a França, a queda foi de 6,5% e, para a Argentina, de 16,7%. “Apesar dessa queda até agora, o dólar em patamares mais valorizados sobre o real, somado à recuperação da economia norte-americana, tende a melhorar o quadro ainda no segundo semestre”, diz Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados). Ele diz, contudo, que os EUA já responderam por 70% das exportações do setor, e hoje ficam com 17%.

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