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Brasileiros descobrem como 'fabricar' uva sem semente em laboratório

Grupo de cientistas encontra o gene responsável pela formação do caroço e, agora, querem cultivar fruta em escala com o uso da biotecnologia

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Por Redação
Atualização:

Um grupo de pesquisadores brasileiros encontrou o caminho para a produção de uvas sem caroço a partir do uso da biotecnologia.

A equipe do Laboratório de Genética Molecular Vegetal da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves (RS), trabalhando com cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), identificou a função do Gene VviAGL11, mecanismo responsável pelo desenvolvimento das sementes da uva de mesa.

O artigo científico com o resultado da pesquisa foi publicado noJournal of Experimental Botany,editado pela Universidade de Oxford, Inglaterra, e divulgado Embrapa Foto: Quinta do Olivardo

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O artigo científico com o resultado da pesquisa foi publicado no Journal of Experimental Botany, editado pela Universidade de Oxford, Inglaterra, e divulgado nesta sexta-feira,7, pela Embrapa.

O estudo comprovou o aumento da presença do Gene VviAGL11 em uma determinada fase da floração da uva, entre a segunda e a quarta semanas. Essa concentração do gene leva ao desenvolvimento da estrutura celular que formará a casca da semente do fruto, explicou Luís Fernando Revers, pesquisador da Embrapa que liderou o grupo. Sem esta estrutura, a uva não desenvolve a semente e o caroço vira um traço imperceptível no interior da baga da fruta. O estudo foi base para o doutorado da pesquisadora Jaiana Malabarba, que também assina o artigo na publicação de Oxford.

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"A identificação do gene acontece quando a uva é ainda menor do que uma ervilha", contou Revers. Neste momento, segundo o pesquisador, já é possível saber se a fruta vai desenvolver ou não a semente e, a partir disso, fazer a seleção precoce da produção na lavoura.

Com pelo menos 16 anos de pesquisa na área e pelo menos 10 de estudos neste projeto, Revers contou que o próximo passo dos cientistas do projeto é o desenvolvimento de um teste de DNA para o melhoramento da videira. Com a ajuda dos técnicos da Embrapa que trabalham em melhoramento da planta, o agricultor poderá saber quais os vinhedos que terão uvas com caroço para então fazer o manejo dos vinhedos eliminando as indesejadas e investindo na produção somente daquela que não tiver o VviAG11, ou seja, a uva sem a semente (apirênica).

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De acordo com a Embrapa, as variedades estudadas são a "chardonnay (com semente) e sultanina (sem semente)". Foram usados "sequenciamento alelo-específico, hibridização in situ, análise de expressão por RT-qPCR e complementação de fenótipo na planta modelo Arabidopsis thaliana", informa o estudo. Os pesquisadores compararam as uvas até identificarem o aumento do VviAG11 naquela que produziu semente e a ausência dele na variedade sem o caroço (sultanina), comprovando a hipótese que já vinha desafiando os cientistas. Uma aplicação seguinte da pesquisa é a operação com o gene em videiras adultas para modificar o tamanho das sementes "por meio do silenciamento do gene".

De acordo com Revers, um dos principais pontos do trabalho do grupo foi "estabelecer e propor uma estratégia de investigação para juntar as evidências". Para ele, o estudo mostra "a importância do investimento em ciência para o agronegócio" e que "com investimento em pesquisa e transferência de conhecimento é possível mudar o mundo e a vida das pessoas". O processo, segundo o coordenador, consumiu investimentos de cerca de R$ 50 mil a R$ 70 mil.

O estudo teve ainda a participação dos pesquisadores Marcelo Carnier Dornelas, coordenador-geral de Pós-Graduação do Instituto de Biologia da Unicamp, que "ajudou a demonstrar e registrar como o gene se expressava durante o desenvolvimento da semente", segundo a Embrapa, e "do professor Jorge Ernesto de Araújo Mariath, da UFRGS, responsável pelo registro das imagens das sementes no processo de laboratório.

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