Com o fim do embargo comercial contra Havana, o primeiro produto cubano que ganhará as lojas dos EUA não será nem o cigarro e nem o rum. Os suíços da Nestlé anunciaram na segunda-feira, 20, que começarão a importar ao mercado americano o café produzido em Cuba, depois de 50 anos de uma relação comercial congelada pela Guerra Fria. O produto será usado em cápsulas para o Nespresso.
As vendas estão sendo planejadas para que possam ocorrer já em setembro, em mais um sinal claro da normalização das relações entre americanos e cubanos. Por anos, foram os suíços que agiam como intermediários diplomáticos entre Washington e Havana. Agora, passarão a tirar vantagens comerciais de 50 anos de “bons ofícios”.
Num primeiro momento, o café será usado para uma nova cápsula, que ganhará o nome de Cafecito de Cuba. O produto estará disponível nas lojas da Nespresso e no seu e-commerce.
Mas, para o presidente da Nespresso USA, Guillaume Le Cunff, o objetivo será o de construir uma relação para garantir um abastecimento de longo prazo do café cubano para o mercado americano. “Não estamos encarando isso como um projeto de curto prazo”, disse. “Esse é o ponto de partida de uma iniciativa de longo prazo”, insistiu o executivo.
Entre as dezenas de medidas que o governo de Barack Obama anunciou em relação ao mercado cubano, uma delas permite que os cidadãos americanos possam viajar até a ilha e trazer bebidas e cigarros em um total de US$ 100. Mas a importação regular dos dois principais produtos ainda está bloqueada por falta de leis que permitam a distribuição.
Mas, em abril, uma nova lei permitiu que o café fosse comercializado e que saísse da lista dos produtos sob embargo. A Nestlé não demorou para usar a brecha e começar a fornecer o produto para o maior mercado do mundo.
Num primeiro momento, a empresa vai comprar o café cubano via Europa, destino para onde o café já é enviado e processado. Mas a empresa já planeja um abastecimento direto de uma economia praticamente em sua fronteira.
Padronização. A Nestlé fechou um acordo com a ONG TechnoServe, dos EUA, para ajudar os produtores cubanos a colher um café nos padrões que atendem ao mercado mundial, elevando a produtividade. Para isso, precisarão garantir novos equipamentos para os fazendeiros cubanos, assim como financiamento.
Hoje, a agricultura cubana é administrada em pequenos lotes de cooperativas. Sua produção é, então, vendida ao governo, que toma a decisão de vender no mercado doméstico ou exportar.
Dados oficiais apontam que Cuba tem uma produção anual de 100 mil sacas de café arábica. Ainda que seja cinco vezes o volume da Jamaica, o montante é apenas uma fração da produção colombiana de 13,5 milhões de sacas ou das 49 milhões de sacas previstas no Brasil em 2016 para todos os tipos de café.