Publicidade

Calçando os pés asiáticos com estilo

Tradicionais fábricas britânicas de sapatos voltam a prosperar graças ao apetite por produtos de luxo na Ásia

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Do sótão das velhas e apinhadas instalações da fábrica de calçados Church's, no centro de Northampton, Stephen Etheridge olha para o terreno ao lado, onde há uma rodoviária deserta. Presidente da empresa, ele conta que é para essa área de 15 mil metros quadrados que em breve se mudará, a fim de abrir espaço para os cerca de cem novos funcionários que serão contratados para preencher as vagas abertas com um plano de expansão. A notícia da mudança causou alvoroço na cidade, que fica pouco mais de 100 quilômetros ao norte de Londres: na lembrança de seus habitantes, é a primeira vez que, em vez de fechar as portas, uma fábrica de calçados cresce. O sucesso recente de uma empresa antiga e venerável como a Church's, fundada em 1873, é reflexo de um renascimento que se estende por todo o segmento de sapatos de luxo de Northampton, impulsionado pela vontade dos asiáticos de experimentar um pouco da velha classe e habilidade artesanal dos ingleses.

Church's, que vende calçado a US$ 1,5 mil, não dá conta de abastecer o mercado asiático Foto: Divulgação

PUBLICIDADE

Houve uma época em que Northampton e as cidadezinhas das redondezas não faziam outra coisa além de fabricar sapatos. Dezenas de milhares de pessoas trabalhavam em centenas de fábricas, pequenas e grandes. Fortunas foram feitas com a venda de milhões de botas para o Exército durante a Primeira Guerra Mundial. Mas essa era de fabricação em massa chegou a um fim calamitoso nos anos 80, quando a produção teve de ser transferida para o exterior, onde a mão de obra era mais barata.

Hoje, a Grã-Bretanha importa quase todos os seus sapatos. Temia-se que o setor desaparecesse por completo. Mas as fabricantes de sapatos e botas de luxo, como Church's, Joseph Cheaney e Loake resistiram. Cada uma delas emprega centenas de pessoas, em vez das milhares, na velha Northampton, mas encontraram um nicho extremamente lucrativo no mercado global e estão prosperando como nunca.

Três séculos.

A Loake ainda é uma empresa familiar e permanece instalada no mesmo edifício que seus fundadores, três irmãos, construíram em 1894, em Kettering, uma cidade vizinha. Como os concorrentes na região, a Loake só faz sapatos com o método "palmilhado Goodyear", criado há 300 anos, por meio do qual o calçado é costurado. Trata-se de uma técnica demorada e dispendiosa, que garante robustez e durabilidade. Como explica o presidente da empresa, Andrew Loake, antigamente todos os sapatos eram feitos assim, até o advento da moldagem por injeção. "Desse ponto de vista", diz ele, "os nossos sapatos deixaram de ser produtos de massa para se tornar um artigo especial e diferenciado".

Nesse tipo de mercado, argumenta Loake, a única coisa que funciona é fazer sapatos melhores, e não mais baratos. A empresa usa hoje couro de mais alta qualidade do que nos anos 80. Cada sapato leva oito semanas para ficar pronto, depois de ser submetido a 200 processos, alguns dos quais não mudam há muito tempo. Mas é exatamente por isso que os novos consumidores, em particular na Ásia, querem pagar. Atualmente, as exportações representam mais de um terço das vendas da Loake, e vêm crescendo de maneira constante há dez anos. Seu maior mercado é a Suécia. Em segundo lugar vem a Coreia do Sul, refletindo, diz Loake, "o apetite por artigos de alta qualidade" que tomou conta da Ásia.

A Church's também vem se saindo bem no Oriente. Apesar de hoje pertencer à marca italiana de alto luxo Prada, sua estratégia de marketing é se apresentar como uma fabricante inglesa por excelência. Para controlar a marca Church's, a calçadista vende quase metade da produção em lojas próprias - tem quatro em Hong Kong, duas em Xangai, uma em Cingapura e está tentando abrir mais uma em Pequim. Os preços são salgados, chegando a US$ 1,5 mil o par. Mas, mesmo produzindo 5 mil pares por semana, a empresa não consegue atender a demanda - por isso os planos de expansão. Se o século 21 não for da Ásia, pelo menos sua elite estará bem calçada.

Publicidade

© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.