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Calote de empresas é o maior em 4 anos

Com a alta dos juros em julho, a inadimplência atingiu 4,1%, a maior marca desde março de 2011, quando o BC passou a acompanhar o setor

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast) e Victor Martins
Atualização:

BRASÍLIA - As pequenas empresas já sentem os primeiros efeitos da crise e começam a ter dificuldades de honrar seus financiamentos. Dados do Banco Central revelam que, com a escalada das taxas de juros em julho, a inadimplência aumentou. No caso de Pessoa Jurídica (PJ), o nível de calote chegou a 4,1%, o maior desde março de 2011, quando o BC começou a acompanhar o setor. 

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O dado mais evidente da situação de aperto pelo qual passam as companhias é o do financiamento para capital de giro, que representa dois terços da carteira de crédito livre para Pessoa Jurídica. Nos casos em que as linhas são inferiores a um ano, as mais utilizadas por pequenas empresas, o calote subiu de 2,4% em julho de 2014 para 6,3% no mês passado. 

O nível de inadimplência geral subiu de 4,6% em junho para 4,8% no mês passado, maior patamar desde julho de 2013. Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, disse que houve também no mês passado um aumento generalizado das taxas de juros e esse é um fator que ajuda a explicar o crescimento em menor ritmo do crédito a pessoa jurídica este ano. De janeiro a julho, o aumento do estoque de crédito para empresas foi de 0,9%, em comparação a 1,4% para pessoas físicas.

Para a equipe de economistas da Rosenberg & Associados, a trajetória de encolhimento do crédito é cada vez mais “estridente” e um dos “fatores cruciais” para a redução do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015. “A Operação Lava Jato e a deterioração da atividade econômica têm tido efeito significativo na oferta de crédito por parte das instituições financeiras, ao mesmo tempo em que o clima adverso retrai a demanda por recursos para investimentos”, escreveram os consultores em relatório a clientes. 

O economista-chefe da Boa Vista SCPC, Flávio Calife, diz que a situação está pior para as empresas do que para as pessoas físicas. Segundo Calife, o consumidor conta com uma flexibilidade que as empresas não contam, que é a de poder parar de comprar. “Se uma empresa para de comprar, ela quebra de vez. Ocorre que, ao mesmo tempo em que o consumidor para de comprar, os custos das empresas continuam subindo com mão de obra e aumento de juros”, diz o economista.

Efeito dos juros. A moderação do crédito, de acordo com Maciel, do BC, se dá em um ambiente de elevação de taxas de juros. A taxa básica Selic está em 14,25% ao ano e passa por um ciclo de alta desde abril de 2013. O aumento tem sido repassado para as taxas de mercado. Em julho, chegou a uma média de 44,2% ao ano no geral, com destaque para o consumidor, que passou a pagar, em média, 59,5% ao ano pelos empréstimos. As duas taxas são recordes da série histórica. 

Também merecem destaques as cobranças do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito. No mês passado, o juro do cheque especial atingiu a marca de 246,9% ao ano, a maior desde novembro de 1995, quando estava em 251,72% ao ano. “Algumas taxas chamam a atenção”, disse. No caso do rotativo do cartão de crédito, a taxa chegou a 395,3% ao ano, a maior da série. “É um custo muito elevado. Temos reiterado que só deve ser tomado pontualmente, em ocasião bem particular”, disse Maciel. /Colaborou Francisco Carlos de Assis

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