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Câmara de Deputados da Argentina debaterá a expropriação da YPF na 4ª

Governo conseguiria aprovação da lei com o respaldo de seus próprios deputados 

Por Ariel Palacios e correspondente de O Estado de S.Paulo
Atualização:

BUENOS AIRES - A expropriação da empresa YPF de gás e petróleo ordenada pela presidente Cristina Kirchner será debatida amanhã (quarta-feira) na Câmara de Deputados da Argentina. O governo conseguiria a aprovação da lei com o respaldo de seus próprios deputados, além do apoio circunstancial de diversos partidos da oposição. No entanto, o debate na câmara baixa promete prolongar-se até a quinta-feira à noite (com um intervalo de descanso na madrugada), já que o projeto de lei provocou profundas divisões dentro dos partidos União Cívica Radical (UCR), de centro; a socialista Frente Ampla e a Coalizão Cívica, de centro.

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O único partido que cerrou fileiras contra o projeto da presidente Cristina foi o Proposta Republicana (PRO), de centro-direita, liderado pelo prefeito portenho, Maurício Macri.

Parlamentares que votaram a favor da privatização em 1992 agora são favoráveis à reestatização. Esse é o caso de Felipe Solá, um dos integrantes do Peronismo dissidente que está reaproximando-se da presidente Cristina. "A privatização de 20 anos atrás deve ser vista com os olhos daquela época. A privatização fracassou de forma retumbante. Hoje o contexto é muito diferente", diz Sola. Depois, argumenta: "nosso papel é o de ser realistas em primeiro lugar. Em segundo lugar, ser pragmáticos. E em terceiro, olhar para o futuro".

O líder do bloco kirchnerista na Câmara, o deputado Agustín Rossi, sustenta que o governo conseguirá pelo menos 200 dos 257 votos.

A aprovação da lei dividiu a UCR, que se opôs à privatização em 1992. Um setor, comandado pelo deputado Oscar Aguad, promete levantar das cadeiras durante a sessão, abandonando o plenário em protesto. Outro setor, comandado por Ricardo Gil Lavedra, pretende ficar.

Antes da expropriação, a composição acionária da empresa dividia-se entre 57,43% da Repsol; 25,46% do argentino Grupo Petersen, além de 17,11% cotados na Bolsa (principalmente investidores dos EUA).Mas, desde o dia 16 de abril, data na qual a presidente Cristina anunciou a expropriação, do total de ações, 26,03% ficarão nas mãos do Estado federal. Outros 24,99% das ações passam às mãos das províncias petrolíferas. Desta forma, em mãos estatais ficarão 51,02% das ações.

Outros 25,46% continuam com o Grupo Petersen, holding da família Eskenazi, que até o ano passado eram amigos da presidente Cristina. Além disso, 15,35% constituem as ações cotadas na Bolsa (basicamente, investidores dos EUA). A Repsol ficou com apenas 7,23% das ações.

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Rodolfo Terragno, escritor, ex-ministro e ex-parlamentar da UCR, sustenta que o confisco implementado pela presidente Cristina tende a afastar os investidores internacionais. "Se em um país determinado a maior empresa está em mãos de uma companhia estrangeira e subitamente o governo local faz uma intervenção por decreto, expropria e anuncia que não pagará indenização, isso levará os investidores a pensar duas vezes antes de instalar-se nesse lugar".

Segundo Terragno, parte da oposição votará a favor do projeto para evitar que sejam vinculados a supostos interesses "anti-nacionais".

Reestatizações

No âmbito político em Buenos Aires não se descarta que nos próximos tempos a presidente Cristina Kirchner decida continuar com outras reestatizações. Os rumores sobre eventuais expropriações a curto e médio prazo aumentaram quando o secretário-geral do sindicato de energia elétrica, Oscar Lescano, afirmou que a matriz energética, "do jeito em que está não pode continuar" e que o governo Kirchner precisa aumentar sua presença nas empresas do setor.

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Segundo Lescano, o governo deveria "controlar" as empresas da área energética, já que existe uma "deficitária qualidade de serviço". O líder sindical, integrante do grupo dos "Gordos" (denominação do grupo de sindicatos que concentram o poder), afirmou que as empresas de energia elétrica Edenor e Edesur estão com problemas financeiros. "O Estado argentino deve ter o poder de decisão no parque energético. Não devemos deixar que a atividade privada comande tudo", afirmou o sindicalista.

A expropriação da YPF conta, segundo diversas pesquisas, com o respaldo de 60% a 70% da população, incluindo setores contrários ao governo Kirchner.

No entanto, na área empresarial o clima é de pessimismo. Segundo a consultoria SEL, 70% dos empresários entrevistados sustentam que o clima de negócios piorou em relação ao ano passado. Ao vislumbrar como será o cenário do ano que vem, 40% afirmam que a situação piorará.

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