Publicidade

Chegando à atenção plena no trabalho, sem recorrer à meditação

Proliferação da meditação levou as pessoas a equipararem a prática com a atenção plena. Erroneamente

Por Matthew E. May
Atualização:
 Foto: Donna Grethen/NYT

Num recente seminário que dei para mais de cem profissionais de negócios, pedi aos participantes que fizessem um jogo simples de associação: "Se eu disser 'atenção plena' (mindfulness), vocês dizem -----------". A resposta em uníssono foi, é claro, "meditação".  Atenção plena, ao que parece, tornou-se uma prática dominante em negócios e uma espécie de indústria em si mesma. Instrutores de meditação são os novos gurus do gerenciamento. Empresas como Google, General Electric, Ford Motor e American Express estão mandando seus funcionários para aulas que podem custar US$ 50 mil para uma classe grande. Existem muitos aplicativos de atenção plena, quase todos focalizando em meditação. A proliferação da meditação para a atenção plena e a combinação dos dois termos levou naturalmente as pessoas a equipararem-nos. Erroneamente. Pela maioria das definições, atenção plena é um tipo de atenção concentrada que envolve detectar mudanças em torno de nós e experimentá-las plenamente, em tempo real. Isso nos põe no presente, atentos e prontos a responder.  Meditação é simplesmente uma das muitas ferramentas para se chegar à atenção plena e, no contexto do trabalho, pode não ser adequada a muita gente. Para aqueles que, como eu, não parecem capazes de meditar, há boas novas. Você não precisa meditar para ficar mais atento.  Há duas abordagens para a atenção plena: a oriental e a ocidental. A visão oriental põe de fato a meditação como instrumento essencial para se chegar a um estado de raciocínio, mas baseia-se mais em silenciar a mente e suspender o pensamento. Essa filosofia é quase totalmente oposta à visão ocidental da atenção plena, centrada no pensamento ativo.  Eu argumentaria que, com a atual velocidade com que o mundo está mudando, pode não ser muito realista suspender o pensamento, ou parar de pensar. Em vez disso, precisamos pensar ativamente nos problemas de modo a chegar a soluções inovadoras.  As duas visões têm o mesmo objetivo: evitar a irracionalidade. Quando não raciocinamos, o passado domina o presente. Ficamos presos a esquemas criados no passado, imobilizados em perspectivas rígidas, e nos esquecemos de pontos de vista alternativos. Isso nos dá a ilusão da certeza.  Por exemplo: imagine que os números nesta incorreta equação com algarismos romanos sejam elementos móveis. Deixando os sinais de "mais" e "igual" como estão, qual o menor número de elementos que você precisaria mover para corrigir a seguinte equação:XI + I = X A maioria daria imediatamente a resposta "um elemento" (mudando-se de XI (11) para IX (9). Mas essa é uma resposta automática, baseada em conhecimento adquirido. A resposta mais criativa seria "zero elemento", a que se chegaria examinando o problema de uma perspectiva alternativa: lendo-se a equação da direita para a esquerda, de modo que:X (10) = I (1) + IX (9).  Examinando-se o problema de diferentes modos, passa-se da visão automática à inteligente. Esse tipo de atenção plena é similar ao conceito de "espectador imparcial" introduzido no século 18 por Adam Smith. Ele escreveu que todos temos acesso a um "espectador imparcial e bem informado". A forma de atenção desse espectador nos dá uma perspectiva mais objetiva e completa - como quando viajamos para um lugar novo e notamos detalhes que os moradores locais não notam.  A chave da atenção plena é aprender a olhar o mundo de um modo mais condicional. Entender que nossa perspectiva seja apenas uma entre visões alternativas exige que aceitemos a incerteza. Quando estamos incertos e inseguros, o mundo em volta de nós volta a ser interessante, como ao notarmos detalhes peculiares numa cena desconhecida.  A técnica mais eficaz que descobri para passar da visão automática à inteligente, sem meditação, envolve uma forma de autodistanciamento e falar comigo mesmo como um conselheiro objetivo faria. Dá para se conseguir isso com poucos e simples passos.  Suponha que você esteja passando por um momento estressante - mudanças no trabalho, um problema difícil, uma decisão importante a ser tomada. O primeiro passo é aceitar que você já chegou a duas conclusões, não necessariamente embasadas: a de que alguma coisa vai acontecer, e essa coisa será ruim. Em seguida procure três razões pelas quais o que o preocupa pode não acontecer. Note que o estresse começa imediatamente a baixar, pois a situação passou do "vai acontecer" para o "pode acontecer, ou pode não". Agora, encontre três razões mostrando que, se a situação ficar ruim, boas coisas também podem acontecer. Essas razões são fáceis de encontrar, uma vez que se procure por elas. Você então passou do "vai acontecer uma coisa terrível" para o "pode acontecer, ou não, uma coisa terrível, e, se acontecer, isso pode resultar tanto em coisas ruins como boas".  É um método fácil que nos torna menos reativos ao mundo - procurando respostas, não apenas reagindo. No fundo, a chave para se eliminar o vazio de raciocínio sem ter de recorrer à meditação pode ser simplesmente entender que uma coisa se torna diferente vista de uma diferente perspectiva - e, então, abraçar essa nova perspectiva. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.