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China surpreende o mercado e baixa os juros para conter a desaceleração da economia

Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e PEQUIM
Atualização:

Com a desaceleração da economia doméstica e o agravamento da crise europeia, a China anunciou ontem corte de 0,25 ponto porcentual dos juros, em uma decisão que surpreendeu o mercado e evidenciou a preocupação de Pequim com a perda de fôlego do crescimento do país.Foi a primeira redução da taxa desde o fim de 2008, logo após a explosão da crise financeira global. O governo também aumentou a margem de manobra dos bancos na definição dos juros finais que cobram dos tomadores de empréstimos ou remuneram os depositantes. A partir de agora, as instituições poderão oferecer ou exigir taxas que variam em 20% em relação ao patamar básico definido pelo banco central. A margem anterior era de 10%. Analistas interpretaram como um avanço em relação à liberalização do setor financeiro. O corte dos juros foi anunciado duas semanas depois de o governo ter aprovado medidas de estímulo à expansão econômica, incluindo a aceleração na aprovação de projetos de infraestrutura e industriais. Dados de abril e informações preliminares de maio indicam que a segunda maior economia do mundo perdeu fôlego depois do crescimento de 8,1% entre janeiro e março e poderá fechar o segundo trimestre com ritmo próximo de 7% ou 7,5%. Para o ano, a projeção é de 8%, menor ritmo em mais de uma década.Entre os projetos aprovados estão a construção de duas grandes siderúrgicas de R$ 42,8 bilhões, com capacidade total para 19,2 milhões de toneladas de aço por ano - mais da metade da produção brasileira de 35 milhões de toneladas anuais.Com a decisão de ontem, os juros básicos incidentes sobre empréstimos de um ano passaram a ser de 6,31%, enquanto a remuneração dos depósitos foi para 3,15%. A maioria dos analistas acreditava que o governo não cortaria os juros. Para eles, o instrumento preferencial para estimular a economia seria o aumento da quantidade de dinheiro que os bancos podem emprestar, por meio da redução dos recursos que eles devem deixar imobilizados no banco central.O chamado depósito compulsório dos bancos já foi cortado duas vezes neste ano. Ainda assim, os empréstimos bancários ficaram abaixo do esperado, o que afeta os números finais de investimentos. O crédito foi o principal propulsor dos milhares de projetos que garantiram crescimento em torno de 10% nos últimos três anos.A situação doméstica chinesa é agravada pela crise na Europa, principal destino das exportações chinesas. O presidente da China Investiment Corporation, Lou Jiwei, disse ao Wall Street Journal que reduziu as aplicações da instituição em ações e bônus europeus. "Há um risco de que a zona do euro se desintegre e esse risco está crescendo", declarou Lou.

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