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Com BRF, preços de salsicha e presunto subirão mais de 40%, diz Cade

Segundo o relator para o caso, Carlos Ragazzo, aumento ocorreria porque participação das duas empresas no mercado é simétrica

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast), Suzana Inhesta e da Agência Estado
Atualização:

A aprovação da união entre Sadia e Perdigão, que cria a BRF - Brasil Foods, resultará em um aumento de preços de 40% em itens como salsicha e presunto, segundo o relator para o caso no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Carlos Ragazzo. Para ele, o negócio prejudicará o consumidor em relação ao preço de vários produtos.

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Isso ocorrerá, segundo o relator, porque a participação das duas empresas no mercado é simétrica. "A única concorrente da Sadia sempre foi a Perdigão e vice-versa. Com a fusão, haverá o fim da rivalidade", considerou durante leitura do voto, acrescentando que a Sadia só reage a mudanças de patamares de preços da Perdigão e vice-versa.

Apesar de as empresas terem alegado redução de preços no passado recente, já após o negócio iniciado, o relator disse que isso ocorreu em função de as duas companhias terem passado a concorrer contra toda as outras empresas de mercado e também porque houve entrada de outras companhias que não se conseguem se manter no mercado por tempo longo. "Alguma reação só foi vista numa oportunidade com a entrada da Seara", pontuou.

As demais marcas do grupo são as de "combate", que estão entre terceira e quinta posição no share do setor. Isso é possível, conforme Ragazzo, porque essas marcas são beneficiadas por ganhos de escala, escopo e integração, vindos das empresas principais. "Antes da operação, as demais marcas também ofereciam forte concorrência entre si, mas com a operação, a rivalidade acaba", disse.

Mesmo com estratégia, consumidor é refém

Na avaliação do relator, ainda que o mercado modifique sua estratégia de preços, a Sadia e a Perdigão terão vantagens nesse negócio. "Qualquer que seja a movimentação de preços, o que se observa é que o consumidor fica refém das duas marcas - Sadia e Perdigão", disse o relator, durante leitura de voto.

Isso acontece, segundo ele, porque um aumento de preços da marca Rezende e Batavo, ambas consideradas de "combate", gera desvio de demanda para a Sadia. No caso de elevação de preços de concorrentes, o consumidor migra para Sadia e Perdigão.

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Isso deixa claro, conforme o relator, que as duas marcas são as preferidas do consumidor, mesmo que elas apresentem preço acima dos concorrentes. "Os consumidores estão dispostos a pagar mais por causa das marcas das empresas", disse. Por isso, reiterou, o efeitos do ato de concentração "são graves". Antes do negócio, com a rivalidade entre Sadia e Perdigão, lembrou Ragazzo, quando havia aumento de preço para um lado, isso deslocava clientes para o outro. "Mas esse cenário é finalizado com essa operação."

O relator salientou ainda que as empresas são líderes em todos os mercados que atuam, com exceção de margarinas. E em todos, têm market share perto de 60%. "Sem exceção, Sadia e Perdigão conseguem vender acima do preço de mercado", disse.

Ragazzo afirmou que o bem estar do consumidor se sobrepõe a quaisquer outros interesses e é isso que o órgão antitruste tem que levar em conta em sua avaliação. "Não é mero capricho da lei antitruste: é dar privilégio à coletividade em detrimento a dar privilegio a um agente econômico", disse.

Ele ressaltou que cada vez mais os produtos da Sadia e Perdigão são consumidos pela nova classe B e C e que o Cade não se opõe à maior oferta de produtos brasileiros no mercado internacional. "O Cade não é ignorante dos efeitos benéficos desse negócio, mas não pode aprovar ato de concentração que gere prejuízo ao mercado interno", alegou.

O relator do caso salientou que a aprovação de uma fusão anticompetitiva tem os mesmos efeitos de um cartel e que o presente ato de concentração tem potencial de gerar mais danos do que benefícios à coletividade. Ele voltou a afirmar que a tendência é de aumento dos preços de vários produtos da ordem de 30% a 40% com a fusão de Sadia e Perdigão. Mesmo contabilizando variação de preços com ganho de eficiências, o resultado, segundo ele, seria negativo.

(Texto atualizado às 16h35)

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