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Com crise, R$ 150 bi em ativos estão à venda no País

A cifra equivale ao valor de mercado do banco Itaú e à metade da Ambev

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Por Redação
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Algumas das grandes empresas brasileiras sairão menores da crise e outras poderão até ficar pelo caminho. Neste momento, cerca de R$ 150 bilhões em ativos estão à venda no Brasil, segundo cálculos internos feitos por bancos de investimento, obtidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. A cifra equivale a praticamente um Itaú em valor de mercado ou a meia Ambev. O encolhimento das empresas tem dois motivadores: as investigações da Operação Lava Jato, que devem fazer até com que algumas empreiteiras saiam de cena, e o conservadorismo, buscado naturalmente em tempos de crise.

CSN está entre as empresas que colocaram ativos à venda para reduzir endividamento Foto: Fernando Soutello/Reuters

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O maior plano de desinvestimento é o da Petrobrás. A estatal tem em pauta um ambicioso plano de venda de ativos, com estimativa de levantar US$ 15,1 bilhões em 2015 e 2016. "No fim do processo, a Petrobrás voltará a ser uma empresa de produção e exploração de petróleo", disse o executivo de um banco nacional. A abertura de capital da subsidiária BR Distribuidora, em uma oferta inicial de ações (IPO) de cerca de R$ 7 bilhões, ainda aguarda uma janela de oportunidade na Bolsa. No pacote de desinvestimento da estatal, estão também usinas térmicas e participações no controle de distribuidoras estaduais de gás natural.

As térmicas estão na categoria de ativos considerados de grande liquidez, razão pela qual a Engevix vendeu sua fatia no controle da Desenvix para a Statkraft Investimentos. Outra empresa do setor elétrico com ativos à venda é a Eletrobrás. A companhia, que enfrenta dificuldades desde 2012, quando o governo mudou o modelo de concessão de geração do País, tem acumulado prejuízos anuais e pretende vender a distribuidora Celg ainda este ano.

A CSN é outra empresa que deve sair da crise focada em três negócios: siderurgia, mineração e cimento. Hoje, a empresa também atua em logística e energia. Já a Vale vem reorganizando seu portfólio, com o intuito de manter os ativos mais geradores de caixa.

"Muitas empresas adotaram uma postura de crescimento inorgânico, via aquisições, nos últimos anos. Agora o cenário reverteu dramaticamente e a crise está fazendo com que as empresas revejam seus portfólios, voltando-se a um negócio mais rentável", disse o executivo de um banco estrangeiro, envolvido na venda de alguns ativos.

Portfólio menor. Constituída por uma série de aquisições, a Hypermarcas está mudando de direção. Nos últimos anos, a empresa se concentrou em um forte processo de redução dos níveis de endividamento e enxugamento do portfólio de marcas, processo que ganhou mais importância agora. No momento, a companhia procura alternativas para sua unidade de fraldas. A empresa se reposicionou de tal forma que, internamente, já se questiona se o nome "Hypermarcas" reflete sua realidade, cada vez mais voltada ao setor farmacêutico.

Com a crise batendo no varejo, o processo de desinvestimento chegou aos shoppings centers. A General Shopping vendeu o Shopping Light, em abril, e deve acelerar o processo nos próximos meses para quitar dívidas corporativas, enquanto busca outras alternativas, como emissão de ações com esforços restritos, para captar recursos com mais agilidade. Ainda no setor, a operadora REP é uma das companhias que pode mudar de dono para capitalizar seu controlador, a PDG Realty, que vem sofrendo com a baixa no mercado imobiliário.

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Além da venda de ativos, há empresas optando por fechar unidades de negócios menos rentáveis. É o caso, por exemplo, da Lojas Marisa, que desistiu de prosseguir com as vendas diretas para estancar a sangria de caixa que a iniciativa vinha provocando. No mesmo setor, todas as grandes redes têm sinalizado intolerância a lojas com performance pior que a média. A varejista de moda C&A, por exemplo, anunciou o fechamento de duas lojas em shoppings grandes no País. Via Varejo e Magazine Luiza também já informaram maior cautela na avaliação das lojas.

"Em um cenário de queda de receita as empresas tentam proteger minimamente a rentabilidade e até mesmo a sobrevivência", diz o professor de Economia do Ibmec/RJ, Daniel Sousa. Segundo ele, negócios que já não eram muito rentáveis ficam inviáveis nesse contexto.

Lava Jato. As investigações da Polícia Federal nos maiores grupos brasileiros de construção e óleo e gás levaram boa parte dessas companhias a rever operações. A OAS, em recuperação judicial, tenta se desfazer de ativos nos segmentos de infraestrutura, ambiental e estádios, para se concentrar em construção. O Grupo Schahin anunciou, ao entrar com pedido de recuperação judicial de 28 empresas, que se concentraria na área de petróleo e gás, abandonando atividades de engenharia e construção. Mesmo assim, no plano de recuperação judicial, mencionou a venda de três navios-sonda.

A Galvão Engenharia colocou à venda participações da Galpar no capital social da CAB Ambiental (de 66,58%) e no capital social da Concessionária Galvão BR-153 (de 100%). Também se comenta a venda de ativos de geração hidrelétrica e eólica. A Odebrecht, que teve a construtora citada na Lava Jato, também procura fazer caixa e teria oferecido no mercado operações de energia renovável.

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"Essas empresas tinham negócios grandes com o governo e dependiam de crédito para tocar essas obras. O governo parou de pagar e o crédito secou. Como elas não têm caixa para fazer frente às obrigações, estão vendendo seus ativos", afirmou o consultor Riccardo Gambarotto, sócio da consultoria RGF & Associados.

Gambarotto ressalta que, além das empresas diminuindo de tamanho, a crise econômica fez muitos empresários colocarem a companhia inteira à venda. "Vender ativos é um privilégio de poucos. Os pequenos não têm o que vender e só podem fazer ajustes operacionais, como cortar custo, ou vender a empresa inteira." / FERNANDA GUIMARÃES, ALINE BRONZATI, ANDRÉ MAGNABOSCO, CYNTHIA DECLOEDT , DAYANNE SOUSA, LUCAS HIRATA, VICTOR AGUIAR E MARINA GAZZONI

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