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Com internet, idoso vive mais e melhor

Estudo feito por pesquisadores brasileiros e ingleses mostra que reduzir as perdas cognitivas diminui o risco de morte na terceira idade

Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli
Atualização:

Com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e do número de idosos no País, não bastam políticas de prevenção de doenças – já que elas acabarão aparecendo para todos no processo de envelhecimento mais cedo ou mais tarde. É preciso pensar em como levar qualidade de vida e independência aos mais velhos, e o uso da internet pode ser uma poderosa ferramenta nesse processo.

Para o geriatra Luiz Roberto Ramos, 'o sistema precisa se estruturar para essa realidade' Foto: Felipe Rau|Estadão

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Estudo feito por pesquisadores brasileiros e ingleses com mais de 6 mil idosos acompanhados por um período de oito anos mostrou que a chamada digital literacy (educação ou treinamento digital) reduz as perdas cognitivas e, consequentemente, o risco de morte na terceira idade. A pesquisa foi citada pelo geriatra Luiz Roberto Ramos, diretor do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), para exaltar a importância dessa e de outras atividades que ajudam a manter a funcionalidade dos idosos.

“Hoje 30% da população idosa convive com cinco ou mais doenças crônicas. Com esse novo paradigma, não devemos buscar o êxito pela cura, mas pela qualidade de vida. E o que vai definir isso são os hábitos e o estímulo à função cognitiva”, disse Ramos durante o Summit Saúde Brasil 2016.

Fundador do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles afirmou que, apesar da importância da inclusão digital na terceira idade, apenas um quarto da população brasileira com mais de 50 anos acessa a internet, a maioria das classes A e B. “Nos últimos anos, houve uma mudança importante sobre o que significa envelhecer. Estamos em uma sociedade em que os brasileiros querem continuar ativos, mas isso requer mudanças no mercado de trabalho e um programa de democratização de acesso à internet.”

Luiz Roberto Ramos explicou que o processo de envelhecimento da população brasileira ocorreu de forma muito mais rápida do que nos países da Europa. Enquanto as nações europeias levaram 180 anos para registrar significativas reduções das taxas de mortalidade precoce e de fecundidade, o Brasil passou pela mesma transformação em apenas 90 anos. “As causas de mortalidade passaram de doenças infecciosas, que pedem tratamentos rápidos e baratos, para problemas crônicos, que exigem tratamentos longos e mais caros”, afirmou o geriatra. “É aí que entra a necessidade de olharmos mais para a alimentação saudável, o combate ao sedentarismo e ao tabagismo, a redução do estresse e os estímulos à função cognitiva dos idosos.”

Recursos. Economista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Áquilas Mendes ressaltou que os insuficientes recursos aplicados na saúde pública brasileira dificultam a implementação de políticas de prevenção e promoção da saúde do idoso. “Hoje, a União gasta 1,7% do PIB com saúde. Para garantirmos a universalidade da assistência, esse porcentual teria de dobrar, pelo menos.”

Se o cenário já parece desanimador, pode ficar ainda pior, segundo o especialista, com a aprovação da PEC 241, que limita os gastos públicos por duas décadas. Estimativa feita por pesquisadores brasileiros mostra que, nos 20 anos em que a regra pode ficar em vigor, a Saúde perderia R$ 433 bilhões – o equivalente ao orçamento de quatro anos do Ministério da Saúde. Estudo do Ipea, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, mostra um quadro mais assustador com as perdas chegando a até R$ 743 bilhões

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“Como vamos garantir o investimento em políticas para evitar que os idosos percam capacidades diante dessas agruras econômicas?”, questionou o especialista. Mendes defendeu que, em vez de propor a PEC, o governo deveria criar mecanismos para aumentar as receitas tributando grandes movimentações financeiras.