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Com pedágios, férias em casa

900 km de estradas ganharam praças de cobrança

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Por Redação
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Num esforço de garantir uma maior arrecadação ao Estado, Portugal decidiu não apenas elevar impostos desde 2008, mas também aumentar o valor do pedágio na rede de estradas que foi construída no país nos últimos 20 anos. O resultado: os carros desapareceram. A elevação dos encargos começou a distorcer os custos de viagem. Hoje, quem viajar da capital Lisboa para a cidade do Porto vai gastar cerca de 36 em gasolina para percorrer os cerca de 300 quilômetros, e deixará outros 22 em pedágios. Dados oficiais do Instituto de Infraestruturas Rodoviárias sobre a Rede Nacional de Autoestradas indicam que, em algumas das estradas, a redução de circulação foi de 50% apenas no ano de 2010, seguindo desde então quedas acima de 10%. O efeito tem sido um número cada vez maior de pessoas e empresas buscando alternativas, seja pelas estradas secundárias deixadas pelo regime de Salazar ou simplesmente evitando viajar.

Viagem de Lisboa ao Porto tem R$ 22 em pedágios Foto: Jose Vicente

Portugal recebeu um pacote de ajuda de 78 bilhões da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar um colapso. Mas, em troca, adotou uma política de austeridade que transformou o país no "bom aluno" da Europa. Entre os cidadãos, porém, essa decisão das autoridades significou mudar seu comportamento, até mesmo ao sair de férias ou se movimentar pelo país - 900 quilômetros de estradas que não tinham pedágios passaram a ter a cobrança. No ano passado, as escolas identificaram uma alta no número de alunos que, em pleno período de férias de verão, frequentaram a escola uma vez por dia para se alimentar, enquanto os pais trabalhavam. Outra constatação é de que famílias têm usado cada vez mais os bônus ou subsídios de férias para pagar suas contas. Segundo o Observador Cetelem, ligado ao Grupo BNP Paribas, cerca de 83% dos portugueses passaram as suas férias em Portugal em 2014. Desse total, 57% passaram as férias no local de residência - ou seja, em casa. Desses, 45% admitiram fazê-lo por falta de disponibilidade financeira. Já em 2012, a entidade Inrix, que monitora o fluxo de tráfego pelo mundo, constatou que Portugal era líder no que se refere à queda do trânsito nas estradas. A redução apenas naquele ano havia sido de 44%. "Para onde vai o tráfego vai a economia", declarou Stuart Marks, vice-presidente da entidade.

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