Com recessão, mais jovens nem estudam nem trabalham; mulheres são mais atingidas

De acordo com dados do IBGE, em 2014, 22,7% dos jovens de 16 a 29 anos nem estudavam nem trabalhavam; em 2016, essa fatia ficou em 25,8%

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Por Vinicius Neder
2 min de leitura

RIO – Ao aumentar o desemprego entre os jovens, a recessão elevou o número de brasileiros entre 16 a 29 anos de idade que nem estudam nem têm emprego nem estão em busca de um. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2017, divulgada nesta sexta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o porcentual de jovens nessa situação, que se manteve estável de 2012 a 2014, saltou em 2015 e 2016, com efeito maior entre as mulheres, por causa dos serviços domésticos.

Em 2014, 22,7% dos jovens de 16 a 29 anos nem estudavam nem trabalhavam. Em 2016, essa fatia ficou em 25,8%. Como a parcela dos jovens dedicados aos estudos se manteve estável, a conclusão é que o aumento ocorreu porque muitos perderam os empregos e desistiram de procurar trabalho.

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Em 2014, 22,7% dos jovens de 16 a 29 anos nem estudavam nem trabalhavam Foto: Nilton Fukuda|Estadão

“Esse aumento dos jovens que não estudam nem estão ocupados não é resultado da diminuição da frequência escolar. Veio do aumento dos jovens não ocupados”, disse Luanda Botelho, analista da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

Conforme as definições dos estudos sobre mercado de trabalho, “ocupados” são apenas aqueles com trabalho, formal ou não, enquanto os “desocupados” são aqueles que estão em busca de um emprego, dispostos a trabalhar, mas não conseguem uma vaga. Para além da recessão, o fato de serem as principais responsáveis pelos afazeres domésticos exclui as jovens do mercado de trabalho. 

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A desigualdade entre homens e o de mulheres no grupo dos jovens que nem estudam nem trabalham se manteve entre 2012 e 2016, com ou sem crise – ano passado, 19% dos homens dessa faixa etária estavam nessa situação, enquanto o porcentual de mulheres era de 32,7%. Conforme o IBGE, as mulheres tinham, em 2016, 1,7 vez mais chances que os homens de estarem nessa situação.

Segundo Luanda, a diferença não pode ser associada à escolaridade, já que as mulheres são mais instruídas dos que os homens. A explicação para a desigualdade está em dados colhidos pela primeira vez na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) de 2016, sobre os motivos pelos quais os jovens de 16 a 29 anos que nem estudam nem trabalham estavam nessa situação.

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Entre os homens, o motivo mais citado, mencionado por 44,4%, foi o fato de não haver “ocupação na localidade”, ou seja, faltavam empregos em sua região. Entre as mulheres, o motivo mais citado (por 34,6%) foi ter que “cuidar dos afazeres domésticos, do(s) filho(s) ou de outro(s) parente(s)”. Esse motivo também foi citado pelos homens – por 1,4% deles.

“Se o governo quiser fazer alguma política para esse grupo, isso não pode se dar sem alguma política de creches”, afirmou a coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE, Barbara Cobo Soares.

A constatação corrobora um fato confirmado em outro recorte da Pnad-C de 2016, divulgado semana passada: a média de horas dedicadas a afazeres domésticos no Brasil era de 16,7 horas por semana em 2016, mas as mulheres trabalhavam 20,9 horas semanais, quase o dobro das 11,1 horas para os homens.

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