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Com setor protegido, Braskem eleva preços

Após o governo federal elevar o imposto de importação para resguardar indústria nacional, petroquímica aumenta polietileno em mais de 20%

Por João Villaverde e BRASÍLIA
Atualização:

A petroquímica Braskem aproveitou uma brecha dada pelo governo federal para elevar em mais de 20% o preço do polietileno, resina crucial para a indústria química e do qual a empresa detém o monopólio no Brasil. No início de setembro, o governo federal elevou o imposto de importação sobre 100 produtos. À época, dirigentes de companhias dos setores beneficiados, inclusive da Braskem, afirmaram que a proteção não implicaria em alta de preços. Isso não aconteceu. Tão logo o governo protegeu a indústria nacional, os preços explodiram.Usados pela indústria plástica para produção de garrafas, sacolas, tubulações, cabos e fios, os polietilenos são produzidos no Brasil apenas pela Braskem. Até agosto, o polietileno comprado do exterior pagava uma alíquota de 14% de imposto de importação. Desde 4 de setembro, com a elevação definida pelo governo, essa alíquota saltou a 20%. Com o espaço dado pelo governo federal, a Braskem reajustou fortemente os preços das resinas que apenas ela produz.Segundo dados detectados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Índice de Preços no Atacado (IPA), os polietilenos de alta densidade ficaram 23,6% mais caros em setembro. Os de baixa densidade saltaram 20,1%. Os dados foram apurados no Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) de setembro.Cobrança. O Estado apurou que a equipe econômica do governo já procurou dirigentes da Braskem para buscar uma explicação. O governo estuda rever a medida para o caso dos polietilenos, ou seja, os importados devem voltar a pagar uma alíquota menor de imposto, e, assim, voltar ao período de competição neste mercado."É inadmissível aproveitar uma brecha dada para incentivar a indústria nacional e elevar seus preços em mais de 20%. Isso não é recomposição de margem. Se fosse preciso encarecer seu produto nessa magnitude tão rapidamente a empresa estaria falida, e este não parece ser o caso", afirmou ao Estado uma fonte do alto escalão da equipe econômica do governo Dilma Rousseff.Depois do enorme salto verificado em setembro, os polietilenos voltaram a subir no mês passado. As resinas de alta densidade aumentaram mais 2,6% em outubro, e as de baixa densidade subiram 3,7%.Entre janeiro e outubro, os polietilenos de alta densidade ficaram cerca de 34% mais caros - apenas a elevação de setembro foi responsável por mais de dois terços dessa variação.Uma das maiores empresas do País, a Braskem detém o monopólio do polietileno em território nacional, e também é a maior produtora de biopolímeros do mundo, com fabricação anual de 200 mil toneladas de polietileno derivado de etanol de cana-de-açúcar. Política de preços. Controlada pela gigantesca empreiteira Odebrecht, a Braskem foi procurada pela reportagem e respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que "não alterou sua política de preços, vigente desde que a empresa foi criada, que consiste em manter os preços das resinas no mercado doméstico alinhados aos preços internacionais, como ocorre com qualquer commodity". De acordo com a Braskem, no mês passado, "houve um aumento médio de 4% das resinas. Entre junho e outubro, o polietileno, a resina mais consumida, teve um aumento de 8%, enquanto a nafta, matéria-prima petroquímica, subiu 29%". A empresa afirmou que "esse aumento nada tem a ver com a mudança na alíquota do Imposto de Importação". Para José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), a medida tomada em setembro pelo governo vai contra a própria política econômica defendida por Dilma."Proteger monopólios não faz sentido quando o que se quer é dar competitividade à indústria. Ao encarecer a matéria-prima nas duas pontas, a importada e a nacional, o governo acaba empurrando a entrada do produto final importado", avaliou.

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