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Como a Grécia pode evitar a saída da zona do euro

Em meio a mais uma crise político-econômica dos gregos, bloco monetário europeu tem de lidar de novo com possível abandono

Por P. W.
Atualização:

Não é a primeira vez que uma iminente eleição na Grécia afeta os nervos dos europeus. A eleição surpresa convocada com antecedência mínima pelo primeiro-ministro grego Antonis Samaras, marcada para 25 de janeiro, reacendeu os temores de que a Grécia seja obrigada a deixar a zona do euro, resultado que foi evitado por pouco em 2012 e ainda pode ser desastroso para o país e para a moeda única.

A saída da Grécia da zona do euro pode ocorrer se o Syriza, partido de esquerda da oposição liderado por Alexis Tsipras, atualmente em primeiro nas pesquisas de intenção de voto, vencer a eleição e confrontar os credores do país com exigências consideradas incompatíveis com a permanência da Grécia na união monetária. A decisão política de eventualmente expulsar a Grécia pode ser defendida pelo Banco Central Europeu, isolando os bancos gregos de suas operações de liquidez e sistema de pagamentos. Será que a eleição grega vai provocar a saída do país da zona do euro?

 

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Tal resultado pode se materializar como consequência de um jogo de blefes envolvendo a Grécia e seus credores europeus, liderados pelo governo alemão. O Syriza deseja o perdão para a imensa dívida da Grécia ante os governos da zona do euro que resgataram o país. Tsipras talvez calcule que os credores europeus cederão para evitar a saída da Grécia, algo que pode prejudicar a zona do euro como um todo ao romper com o princípio segundo o qual a participação na moeda única seria irrevogável. Diante desse blefe, o governo alemão tem seu próprio blefe: o plano é mandar um recado claro, mostrando que o país não cederá ao que considera ser chantagem, sabendo que isto poderia incentivar políticos de outras economias resgatadas a seguir o exemplo de Tsipras.

Na última vez que jogamos esse jogo, em meados de 2012, tanto gregos quanto alemães piscaram na hora H. O eleitorado grego recuou ao decidir não apoiar o Syriza, que ficou em segundo nas eleições de junho, permitindo que Samaras formasse um governo de coalizão. e o governo alemão acabou decidindo apoiar Samaras e não impor à Grécia a saída da zona do euro, destino que chegou a ser levado em consideração, por temer as consequências sistêmicas que a zona do euro sofreria; os mercados temiam que, se a Grécia saísse, outros países poderiam seguir o mesmo rumo.

Nessa ocasião, ambos os países têm novamente motivos para evitar a saída da Grécia, mas o equilíbrio do poder de negociação foi deslocado da Grécia para a Alemanha. O risco sistêmico para a zona do euro decorrente de uma saída grega é menos saliente do que em 2012, porque o rendimento das obrigações despencou na periferia, em parte como reação à expectativa de que o BCE vai adotar um grande programa de afrouxamento quantitativo. Isso vai incentivar o governo alemão a adotar uma linha dura. Os gregos, por sua vez, já suportaram muita dor em nome da permanência na zona do euro, algo que a maioria da população considera positivo para o país, e não negativo. A economia saiu do momento de descontrole e, por mais que a Grécia esteja muito endividada com seus credores oficiais, os termos do empréstimo são bastante favoráveis. Tudo isso indica que as pressões internas da Grécia no sentido de evitar um confronto, seja com menos votos para o Syriza do que o esperado, ou por meio de uma postura mais amena de Tsipras caso permaneça no poder, podem ser suficientes para evitar que o país deixe a zona do euro.

© 2015 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados.

Da Economist.com, traduzido por Augusto Calil, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado no site www.economist.com

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