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Companhias buscam outros mercados

Escolher uma bolsa de outro país para vender suas ações é uma prática comum entre as empresas

Por Ana Paula Ragazzi
Atualização:

O investidor brasileiro ficou de fora da oferta de ações de maior sucesso de uma companhia nacional nos últimos anos. A PagSeguro, dona das máquinas de pagamento “moderninha” e “minizinha”, escolheu a Bolsa de Nova York para vender suas ações. Conseguiu R$ 7,4 bilhões e a quantidade de investidores interessados era suficiente para comprar quase 15 vezes o total de papéis ofertado. No pregão de estreia, as ações valorizaram 36%. 

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Escolher uma bolsa de outro país para vender suas ações é uma prática comum entre as empresas, acirrada pelas próprias bolsas internacionais. Os motivos são vários. A bolsa local pode não ter investidores suficientes para ficar com as ações. A empresa pode estar à procura de mais liquidez. E ter ações avaliadas em uma moeda como o dólar pode facilitar uma negociação para venda ou fusão. 

Mas o principal motivo é evitar as chamadas barreiras de investimento: ao listar os papéis em outra bolsa, a empresa pode ter acesso a outro tipo de investidor – focado exatamente no seu negócio, mas que só pode investir, por exemplo, em companhias acompanhadas pela SEC – a xerife do mercado de capitais americano. 

Esse parece ter sido o caso da PagSeguro, que lá encontrou investidores dedicados a seu negócio e dispostos a pagar mais por ele. Antes dela, em abril do ano passado, a varejista online brasileira Netshoes, já havia escolhido a Nyse, embora sem tanto sucesso. A Nexa Resources (ex-Votorantim Metais), também ficou de fora da B3 e optou por um processo de dupla listagem, na Nyse e na Bolsa do Toronto. E a aérea Azul seguiu o mesmo modelo, mas colocando papéis em Nova York e na B3. 

Em novembro do ano passado, a London Stock Exchange (LSE) fechou acordo com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) e o Instituto Mineiro de Mercado de Capitais (IMMC) para trazer para o Brasil um programa de capacitação e suporte ao desenvolvimento de negócios e à captação de recursos pelas pequenas e médias brasileiras nos mercados globais. O programa é batizado de Elite e foi implementado pela primeira vez na Itália, em 2012; dois anos depois foi replicado no Reino Unido. 

“O Brasil é um país muito extenso, com elevada diversidade e quantidade de empresas, além de um grande mercado consumidor e que agora está entrando em uma nova fase de crescimento. Essas companhias precisam acessar o mercado”, afirma Chris Mayo, da bolsa de Londres. Ele diz que o custo dessas operações em outros países é alto, mas que isso é compensado pelo benefício de ter acesso ao capital. 

Tiago Isaac, superintendente de relacionamento com empresas e estruturadores de ofertas da B3, avalia que as operações de empresas brasileiras apenas no exterior estão bem longe de ser uma tendência. No ano passado, 28 empresas brasileiras captaram US$ 14 bilhões vendendo ações. Dessas, 23 acionaram apenas a B3 e somaram US$ 11,4 bilhões (85%) do total; 3 tiveram captações no Brasil e exterior (US$ 1,9 bilhão); e 2 foram exclusivamente lá fora (US$ 700 milhões). “Os números mostram que essas operações não são significativas”, afirma. 

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