A conquista não se dá apenas nas grandes campanhas, mas no dia a dia, pela imprensa, rede social, em salões de festa e conversas de botequim. Verdades e mentiras repetidas pela imprensa, tuitadas e postadas na rede social, com milhares de likes, acabam se convertendo em “mentiras” e em “verdades”. E, desta forma, correm o mundo, mobilizam movimentos sociais, interesses corporativos, ganham status nas agendas políticas, transformam-se em protocolos e acordos internacionais, amealham recursos, incorporam-se a projetos, arrecadam milhões e, assim, transformam o mundo. Para o bem e para o mal.
O Brasil tem sido um perdedor em batalhas de comunicação no cenário internacional. É certo que raramente fazemos bem feita a lição de casa, e damos margem às notícias negativas que vão compondo uma imagem desfavorável do País. O fato é que quase sempre aparecemos mal na fita, pior do que a realidade justificaria. Uma área na qual o País tem sido “vítima” é a ambiental. A agricultura brasileira talvez seja a que hoje utiliza as melhores práticas ambientais, no estado da arte. Nas últimas duas décadas, a produção de grãos se multiplicou por 3 e a área cultivada cresceu apenas 50%. O rebanho bovino quase dobrou e a área de pastagem caiu quase 30%. O desmatamento vem caindo e a legislação agroambiental, plasmada no Código Florestal, é uma das mais rigorosas do mundo. E não é para inglês ver! Apesar disso, dia sim, dia não surgem notícias negativas, muitas vezes generalizando casos isolados, exagerando os impactos ou até mesmo fantasiando. E assim o boi brasileiro acaba emitindo mais gases do que os automóveis; a soja, que se transforma em alimento para milhões de famílias, responsável pelo desmatamento; e a cana-de-açúcar, que produz combustível limpo, expropria as terras de pequenos agricultores. Como as versões já viraram “verdades”, pouco adianta contestá-las com as verdades de fato.
A nova vítima são as barragens das hidrelétricas. Com base em pesquisa da Washington State University (WSU), o prestigioso jornal inglês The Guardian publicou artigo apontando as hidrelétricas como grandes emissoras de gás de efeito estufa (GEE). Como o Brasil tem grandes hidrelétricas, não será surpresa se o príncipe virar sapo e nossa matriz energética, sempre apontada como limpa em razão da importância da hidreletricidade e dos biocombustíveis, se transformar na nova vilã do meio ambiente.
O estudo da WSU se baseia em critérios científicos duvidosos e ignora um detalhe fundamental para a estimativa de emissões pelos reservatórios de usinas: o tempo médio de renovação da água. Na maioria das usinas brasileiras, construídas nas últimas quatro décadas conforme projetos com rigoroso escrutínio ambiental, o tempo de renovação é baixo e estimativas cuidadosas indicam níveis de emissão negligenciáveis, ou até mesmo zero, como é o caso de Xingó. A exceção é a Usina de Balbina, com seus equívocos de projeto e execução, com tempo de renovação de dois anos e que emite tanto GEE quanto uma termoelétrica a carvão. Exceção que não justifica a conclusão do estudo, que no limite pode colocar os ambientalistas românticos contra uma alternativa que sabemos explorar e que é comprovadamente sustentável, garantindo-nos uma matriz energética das mais limpas do mundo. Vamos mudar para pior?
É PROFESSOR DE ECONOMIA NA UNICAMP