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Economia e políticas públicas

Opinião|Confiança é tudo

O Banco Central jogou duro contra a inflação, e está colhendo juros baixos

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Atualização:

Apesar de as duas crises, fiscal e política, não terem sido nem um pouquinho resolvidas nas últimas semanas, o mercado financeiro sinaliza que a situação do Brasil está sob controle.

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Isso não quer dizer, claro, que de repente a economia voltou a crescer a um ritmo satisfatório e o desemprego caiu para um nível aceitável. Não há mágica na economia, e o Brasil ainda está tentando sair da mais traumática e destrutiva recessão em um século. O que a Bolsa em alta e o dólar e os juros em baixa indicam é que os investidores botam fé – neste momento, pelo menos – em que as coisas vão melhorar.

Muitos analistas estão dando tratos à bola para entender como o País que chegou à beira do abismo no fim de 2015 e início de 2016, por causa da crise política e fiscal, agora apresenta ativos financeiros estáveis e relativamente valorizados, em plena crise política e fiscal.

Teorias não faltam, embora nenhuma delas seja inteiramente convincente para explicar tamanho contraste. Talvez seja o caso de voltar um pouco no tempo e inverter a pergunta: por que os mercados ficaram tão desesperados na virada de 2015 para 2016?

Uma primeira provável causa é que naquele momento o Brasil estava em pleno e assustador tombo da megarrecessão, enquanto agora se encontra machucado no fundo do poço, mas já pensando em como escalar de volta até a superfície. O ambiente internacional também pode ter ficado mais favorável, embora a diferença não pareça grande o suficiente para justificar uma mudança tão forte do humor em relação ao Brasil.

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Dois fatores que certamente contam, e que vêm sendo bastante citados, são a posição externa crescentemente sólida do País – este ano o superávit comercial deve ser recorde – e a inflação em forte queda, trazendo junto para baixo os juros.

Mas aqui a dúvida pode ser restabelecida, especialmente em relação à inflação e aos juros. Por que, com a deterioração das contas públicas e da política, os principais indicadores macroeconômicos entraram nos eixos?

É certo que a recessão finalmente bateu nos preços, derrubando a inflação. Mas isso não teria ocorrido na mesma intensidade se o dólar, por exemplo, estivesse nas alturas. O câmbio comportado, por sua vez, pode ser atribuído ao desempenho do setor externo, mas não só. O ingrediente que está faltando chama-se confiança, e foi ele que permitiu costurar algumas melhoras aqui e acolá num colchão mais consistente, que vem resistindo à aguda crise política desde 17 de maio.

Aqui não se trata dos índices de confiança de consumidores e empresários, que se recuperam lentamente desde o ano passado, mas sofreram novo impacto com o escândalo envolvendo o presidente Michel Temer. A confiança mencionada é aquela que os investidores do mercado, credores da dívida pública brasileira, depositam na atual equipe econômica.

Foi essa confiança que se rompeu no segundo mandato de Dilma Rousseff, levando ao pânico de 2015 e 2016. Agora, a situação parece tão difícil – e, em alguns aspectos, pior – do que naquela época, mas a sensação é de que um grupo amplo de capazes gestores de política econômica, incluindo o comando das grandes estatais, está fazendo das tripas coração para colocar a casa em ordem, e tem o apoio do governo para isso.

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Como já observado, uma melhora ajuda a outra, desde que se faça a coisa certa. O Banco Central jogou duro contra a inflação, e está colhendo juros baixos, que podem vir a melhorar a cara do maior vilão da história, a trajetória da dívida pública. A inflação está tão baixa que é possível aumentar o imposto da gasolina, para dar uma força na receita fiscal, sem atrapalhar o BC.

Enfim, o Brasil está tendo uma lição de como, mesmo nas piores situações imagináveis, o trabalho de equipe racional e consistente, dispensando as mágicas e os truques, pode fazer uma grande diferença.

* COLUNISTA DO BROADCAST E CONSULTOR DO IBRE/FGV

Opinião por Fernando Dantas
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