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Consumidor cauteloso até nas liquidações

Mesmo quem espera os megasaldões de início de ano para comprar prevê gastar menos este ano

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara e Douglas Gavras
Atualização:

Pela segunda vez seguida, Marcionone de Souza Bueno, de 22 anos, casado e pai de dois filhos, é o primeiro da fila de consumidores que a aguardam a megaliquidação do Magazine Luiza, marcada para sexta-feira, às 6 horas, nas 791 lojas da rede. Sob forte calor, ele chegou à loja de Franca (SP), às 15 horas do último domingo, com planos de comprar uma máquina de lavar, duas motocas motorizadas para os filhos, de 2 e de 6 anos, uma batedeira e uma panela de pressão. “Pretendo gastar R$1,2 mil este ano. Foi o que eu consegui juntar em 2016 porque, com a crise, o movimento caiu”, diz Bueno.

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Ele é vendedor de balas e engraxate. No ano passado, gastou R$ 1,5 mil na megaliquidação. Levou para casa vários itens, como um tanquinho, uma panela de arroz, um jogo de copos. Bueno diz que as motocas são uma surpresa que fará para os filhos.

Bueno é um exemplo de como a crise afetou o bolso do brasileiro até mesmo nas liquidações. Nos tradicionais saldões de janeiro, ele decidiu gastar menos este ano em relação ao que desembolsou no início de 2016.

A aposentada Miriam Freire, frequentadora assídua das promoções de início de ano, é outra consumidora que vai gastar menos este ano. Nesta terça-feira, 3, numa loja Carrefour na zona norte da capital paulista, que faz, até hoje, um saldão anual de bazar, eletrodomésticos e têxteis, ela planejava desembolsar R$ 300 a menos que em 2016. “No Natal do ano passado, a gente já economizou o quanto podia. Compramos lembrancinhas só para as crianças – e nada muito caro. Esperamos os saldões de janeiro para pesquisar o preço de um micro-ondas e de uma batedeira.”

Escaldado pela crise, a cautela nas compras predominou entre os consumidores ao longo de 2016. Com isso, o faturamento do comércio caiu, os lojistas anteciparam a Black Friday e fizeram liquidações antes mesmo do Natal. Nos saldões de janeiro, o comportamento dos comerciantes não foi diferente.

A Via Varejo, dona das bandeiras especializadas em móveis e eletroeletrônicos Casas Bahia e Ponto Frio, por exemplo, antecipou para segunda-feira, 2 de janeiro, o saldão antes marcado para sexta-feira, dia 6, quando ocorre a “Liquidação Fantástica” da concorrente Magazine Luiza. Segundo o diretor de operações da Via Varejo, Marcelo Rizzi, a decisão de antecipar o evento foi tomada porque a mesma estratégia foi adotada na Black Friday e proporcionou melhores resultados. “As vendas aumentaram e o consumidor foi mais bem atendido.”

O executivo não revela as metas de venda para o saldão, que vai até sábado, mas destaca que elas são agressivas. Segundo ele, as centenas de produtos oferecidos com descontos nas lojas físicas e no site resultam de negociações fechadas com a indústria especialmente para o evento, e não se trata de sobras do Natal.

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No entanto, Izis Ferreira, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), observa que a tática de antecipar liquidações e promoções pode refletir vendas de Natal abaixo do previsto. Nas projeções da CNC, que aguarda dados oficiais do IBGE para confirmar as estimativas, as vendas de Natal do varejo restrito, que não inclui veículos e materiais de construção, devem ter recuado 4% em 2016. A economista lembra que 2016 foi um ano de ajuste de estoques, que o comércio trabalhou com o cenário de um Natal fraco e, mesmo assim, deve ter havido sobra de produtos. Os dados dos estoques de dezembro compilados pela CNC serão conhecidos na próxima semana.

Prazos. Além de antecipar as liquidações, há lojas que dilataram os prazos de pagamento dos produtos em oferta. O Extra, por exemplo, que inicia o saldão hoje e vai até domingo, informa que está parcelando em até 20 vezes, sem juros, no cartão próprio, as compras de eletrônicos. No ano passado, esse parcelamento tinha o prazo máximo de 18 vezes.

Apesar de o foco das liquidações de início de ano estar em eletrodomésticos e eletrônicos, as montadoras também aproveitam o embalo para desovar estoques. A Volkswagen, por exemplo, inicia o ano com uma campanha de descontos agressivos, com veículos modelo 2017, fabricados em 2016. Normalmente, as montadoras de veículos não abrem o ano com promoções. Um exemplo de oferta é o Fox 1.6, na versão Trendline. O carro, cujo preço de lista é R$ 50.662, está na promoção por R$ 45.887 nas concessionárias da Região Sudeste. O desconto é de 9,4%. O corte no preço é o esforço do setor para rebater a queda na venda.