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Economia e outras histórias

Contra a maré

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Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Em meio a desequilíbrios de toda ordem, os grandes indicadores macroeconômicos ingressaram numa zona de deterioração acelerada. Reflexo do acúmulo de déficits nas contas públicas e no setor externo, a inflação se mantém resistente e acima do teto da meta. Tanto o mercado de trabalho quanto o endividamento público, que ainda escapam aos resultados negativos de outros indicadores, mostram clara tendência de piora. A situação é muito preocupante e exigirá corretivos inevitavelmente fortes, o que implica capacidade do governo, num segundo mandato que começa repleto de espinhosos conflitos, para coordenar reformas mais profundas. Olhar para os grandes indicadores macroeconômicos, contudo, é como observar uma floresta do alto. A visão geral nem sempre permite ver as árvores em separado e obter uma avaliação mais precisa do que se passa no interior do conjunto. Um exemplo de que, por trás da estagnação e da aparente paralisia que parecem ter tomado conta da economia ao longo do primeiro mandato de Dilma, pode haver ilhas de dinamismo vem da atividade de private equity e venture capital. O segmento reúne empresas que captam recursos no mercado ou aplicam recursos próprios em participação acionária de empreendimentos fechados ou em lançamento, com participação ativa na administração do negócio, para posterior venda. Um levantamento inédito, que será apresentado na quinta-feira, em São Paulo, revelará que, entre 2004 e 2012, a atividade registrou forte avanço. O trabalho minucioso foi coordenado pelo economista Claudio Vilar Furtado, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, e diretor executivo do seu centro de estudos em private equity e venture capital (GVCepe). O levantamento abrangeu o triênio 2010-2012 e é o terceiro da série iniciada em 2004. Números robustos mostram evolução acelerada dos negócios no segmento, entre 2004 e 2012. No período, a lista de instituições gestoras aumentou 130% e a quantidade de fundos de investimento quase dobrou.Chama ainda mais a atenção a evolução do volume de capital comprometido, que saltou dez vezes em oito anos, tendo alcançado, em 2012, pouco menos de US$ 60 bilhões. Em comparação com o PIB, é uma alta de quatro vezes. Se, em 2004, equivalia a 0,7% do PIB, em 2012 já avançara para 2,74%. Também o investimento anual das gestoras cresceu nas mesmas proporções, chegando a US$ 7 bilhões, em 2012. Nesses oito anos, os investimentos das instituições de private equity e venture capital subiram de 0,1% do PIB, em 2004, para 0,34% do PIB, em 2012. A captação de recursos no segmento, que cresce, desde 2004, entre 15% e 20% ao ano, confirma o dinamismo da indústria de private equity. Essa atividade pulsante é um dos reflexos das taxas de retorno obtidas pelas 160 gestoras identificadas na pesquisa. No caso do venture capital, o retorno, no Brasil, entre 2010 e 2012, foi 83% maior do que o ganho mediano dos fundos nos Estados Unidos, em seus melhores momentos. Quanto ao fundos de private equity, o retorno sobre o investimento, no mesmo triênio 2010-2012, chegou a três vezes e meia o obtido pelos congêneres americanos, em seu período de ouro, de 1990 a 2001.Responsável, nos últimos quatro anos, por 80% das aberturas de capital na Bolsa de Valores brasileira, o setor de private equity concentrou seu foco, nesse período, seguindo a onda da economia, em segmentos de serviços e de infraestrutura. Mas a diversificação é a marca atual do negócio, que já soma participação em 680 empresas, incluindo crescente número de empreendimentos de médio e mesmo pequeno portes. "Investir contra a maré, lançar ou sanear negócios, visando o crescimento, é a característica dessa indústria", lembra Furtado. O que nos faz lembrar que, como essas empresas, a economia também anda em ciclos de saneamento e crescimento.

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