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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Conversas com máquinas

Se é trocando mensagens que passamos o dia, o espaço será comercialmente explorado

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Cerca de 70% de tudo o que compartilhamos online é feito no lado negro das redes sociais. Links, fotografias, artigos, vídeos. Apesar do nome, não é um lugar clandestino. Mas é um canto impermeável da internet, onde não é possível fazer registro, contabilizar o que está sendo visto. Aquilo que circula e é consumido neste lado sombrio da rede não se torna dado de consumo que possa ser usado para publicidade ou propaganda. Lá, tudo é realmente privado. São, principalmente, e-mails e aplicativos de mensagens instantâneas. Pois é: 70% de tudo o que compartilhamos online passa por ali.

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Em meados do ano passado, os quatro principais aplicativos de mensagem ultrapassaram em uso os quatro maiores aplicativos de redes sociais. Nesta nova categoria de campeões de audiência, os dois maiores pertencem ao Facebook: WhatsApp e Messenger. E, assim, começou uma nova era na corrida econômica digital.

A última corrida ocorreu há sete anos, em julho de 2008, quando a Apple lançou uma loja de aplicativos junto à segunda versão do iPhone. A App Store inaugurava a briga pelos aplicativos de celular. Jovens programadores espalhados pelo mundo mergulharam na oportunidade. Pessoas desconhecidas, isoladas em suas garagens, criaram negócios milionários. Hoje, só a loja para iPhones e iPads oferece mais de 1,5 milhão de apps que geraram quase US$ 20 bilhões.

Mas o digital não é assim tão simples. A cada cinco ou seis anos, novas tecnologias disparam mudanças de hábito. Negócios formidáveis deixam de funcionar. É o que está ocorrendo. O mundo das apps tornou-se má aposta. As vinte maiores empresas de software para smartphones controlam mais de 50% do dinheiro que circula, segundo a revista britânica The Economist. Um quarto dos apps baixados são usados apenas uma vez.

Enquanto isso, 2,5 bilhões de pessoas já têm aplicativos de troca de mensagens instalados. O foco principal desta corrida, por enquanto, se concentra numa tecnologia à qual a maioria de nós não fomos apresentados. São os chat bots. Robôs de bate-papo.

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No início deste ano, o primeiro chat bot lançado com alguma fanfarra virou motivo de piada. Chamava-se Tay e foi desenvolvido pela Microsoft para portar-se como um jovem. Qualquer um poderia trocar mensagens com ele via Twitter. Não durou um dia. Rapidamente, suas respostas para perguntas mais leves adquiriram tom racista, machista, grosseiro. Aprendeu bem demais com os que o provocaram.

Inícios desastrados são normais. E é justamente a Microsoft, junto ao Facebook, que estão liderando esta corrida para os robôs. Qualquer um já pode iniciar, no Messenger da rede social, uma conversa com o bot da rede de notícias CNN. (Basta seguir o link m.me/cnn) A interação é simples. No aplicativo de mensagens, a CNN oferece os títulos das principais notícias. Clique em uma, leia. No futuro, o bot aprenderá com os hábitos de cada um, oferecendo sugestões do que ler ao longo do dia.

A lógica é evidente. Se é trocando mensagens que passamos a maior parte do dia, o espaço será comercialmente explorado. No início do mês, o Facebook apontou robôs de bate-papo como a mais importante. E é no comércio eletrônico em que a expectativa é maior. Seria uma experiência parecida com a da loja física, na qual pedimos um sapato, damos uma noção do preço e cor.

Ao que parece, conversaremos cada vez mais com máquinas nos próximos anos.

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