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Cooperativa tenta sair da sombra da Batavo

Criadores da marca, vendida há mais de 20 anos, trabalham para se restabelecer no varejo

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Por Fernando Scheller
Atualização:
Localizada na região dos Campos Gerais (PR), Frísia reúne 800 produtores agrícolas e fatura R$ 2,3 bilhões por ano Foto: Rodolfo Buhrer / ESTADÃO

CARAMBEÍ (PR) - Uma história que começou há 106 anos está pronta para ganhar novos capítulos. A cooperativa que deu origem à marca Batavo abandonou seu nome centenário e, além de fornecer leite, suínos e trigo para as principais marcas brasileiras, agora se prepara também para dar saltos mais ambiciosos no varejo.

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Hoje, a produção da cooperativa, rebatizada de Frísia, é encontrada nas prateleiras dos supermercados sob marcas conhecidas, de empresas que terceirizam a produção de seus derivados de leite com ela: Ninho, da Nestlé, Aviação, Itambé, Tirol e Paulista são algumas dessas marcas. O objetivo da cooperativa agora, segundo seu presidente, Renato Greidanus, é investir cada vez mais em produtos com marcas próprias para ser remunerada a preços de varejo. “Temos o controle de toda a cadeia produtiva, o que nos garante credibilidade”, diz.

Fundada por imigrantes holandeses, na região dos Campos Gerais, no Paraná, a cooperativa reúne 800 proprietários agrícolas e fatura R$ 2,3 bilhões por ano. Os primeiros holandeses chegaram à região, que fica a pouco mais de 100 quilômetros de Curitiba, entre 1911 e 1920. Foram eles que fundaram, em 1928, a Cooperativa Agropecuária Batavo na cidade de Carambeí, hoje com 20 mil habitantes.

Mesmo depois de vender a marca Batavo para a Parmalat, em 1998, para pagar dívidas, a cooperativa manteve a razão social original por quase 20 anos. Ao todo, a marca já passou pelas mãos de quatro donos. Em 2000, foi vendida para a Perdigão (atual BRF) e agora pertence à francesa Lactalis. A principal unidade da Batavo ainda fica em Carambeí. Agora, porém, a fachada leva a “assinatura” da nova dona.

Inovação. Enquanto reverencia a própria história, a Frísia tenta ampliar o uso de tecnologia em sua produção. Parte desse investimento em automatização é representado pela Melkstad, empresa proprietária de um sistema em formato de carrossel que permite a ordenha de 50 vacas ao mesmo tempo.

Seis produtores se uniram para formar um rebanho que hoje tem 1.180 vacas em lactação e adquirir o equipamento americano, em um investimento de R$ 30 milhões. ‘Temos capacidade de chegar a 1,9 mil vacas em lactação com o investimento já feito”, diz Diogo Vriesman, sócio-diretor da Melkstad.

Além disso, propriedades de menor porte têm adquirido equipamentos menores, de R$ 1 milhão, chamados pelos cooperados de “robôs”. Uma das máquinas já instaladas na cidade fica na casa de Jan Erkel, de 74 anos. O produtor rural chegou em 1993 à cidade e comprou 200 hectares de terra. Veio com a mulher e um dos filhos, para começar do zero. Ao lado de Jannie, passou a entregar seu leite na cooperativa. “Primeiro a gente tinha uma só vaca produzindo, depois veio a segunda, a terceira...”, lembra. Após um tempo parado, o patriarca dos Erkels decidiu interromper a aposentadoria, reuniu um novo rebanho de 70 vacas e investiu numa ordenhadeira automática. Jan e Jannie acompanham a produção em tempo real olhando gráficos em um laptop, sem sair de casa.

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Suínos. Um dos investimentos mais recentes da Frísia e de suas sócias – uma unidade de produção de derivados de suínos – já destina 30% de sua produção à marca Alegra, hoje distribuída no Paraná e em alguns varejistas de São Paulo, como Hirota e Assaí (do Grupo Pão de Açúcar). Um terço da produção é destinado à exportação de cortes de carne, enquanto o restante é dividido entre industrialização para terceiros (como Ceratti) e de itens para restaurantes (como bacon para o McDonald’s e costela para as redes Applebee’s, Madero e Outback). A fábrica hoje abate 3,2 mil porcos por dia, mas pretende atingir 4,5 mil unidades ao fim de 2018.

A busca por um viés mais forte de industrialização é um objetivo comum do setor cooperativista, segundo o consultor em commodities Etore Baroni, da Intl FC Stone. Mesmo líderes do setor – como a Coamo, maior cooperativa da América Latina – estão atrás de uma dependência menor das commodities.

Nesse cenário, o modelo a ser seguido é o da catarinense Aurora, cooperativa que é a terceira colocada no mercado nacional em vários derivados da carne, atrás somente de BRF e JBS. “Existe uma busca generalizada por diversificação no setor, com níveis variados de sucesso”, disse Baroni.

Parceria. Em vez de apenas fornecer matéria-prima, a Frísia trabalha em parceria com duas outras cooperativas – a Castrolanda e a Capal, localizadas em cidades vizinhas – e definiu três pilares de atuação: leite, carne e trigo. As três cooperativas, que já atuavam juntas na época da Batavo, agora trabalham para construir novas marcas, entre elas a Alegra e a Colônia Holandesa, que pertencem à Frísia.

A próxima empreitada da fundadora da Batavo em busca de seu lugar nas prateleiras se dará no moinho de trigo. A cooperativa já criou uma marca para sua farinha – Herança Holandesa –, mas hoje ela é distribuída apenas no atacado.

Isso deve mudar em breve: o projeto é que a venda no varejo paranaense comece em 2018, segundo o presidente da Frísia, Renato Greidanus. Será mais um passo para a cooperativa deixar de ser vista apenas como a centenária criadora da Batavo.

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