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Copom não surpreende e mantém Selic em 19%

Os analistas já esperavam pela manutenção da Selic em 19% ao ano. Devido às incertezas no cenário interno e externo, as cotações do dólar podem voltar a subir e prejudicar o cumprimento da meta inflacionária, que é um dos principais focos da atual política econômica.

Por Agencia Estado
Atualização:

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) pela manutenção da Selic - a taxa básica de juros da economia - em 19% ao ano não surpreendeu os analistas. Na última reunião do ano, encerrada há pouco, a nota divulgada afirmou que "houve melhora nas condições da economia. No entanto, diante de um quadro externo ainda incerto, o Copom decidiu manter a meta da taxa Selic em 19% ao ano, sem viés". A nota do Comitê deixa claro que a economia brasileira já dá sinais positivos, como uma inflação menos pressionada e os saldos positivos da balança comercial. Porém, o cenário externo ainda é muito incerto, o que pode provocar pressão sobre as taxas de câmbio, influenciando novamente os índices de inflação. A nota do Copom não menciona a questão da inflação, mas o Banco Central (BC) tem sido taxativo ao afirmar que a política monetária será baseada no controle das metas de inflação, as quais podem ser influenciadas por um câmbio pressionado devido às incertezas externas. E como elas existem, principalmente em relação ao cenário argentino, a manutenção dos juros sinalizou a postura de cautela por parte do BC. O estrategista do Deutsche Bank, José Cunha, acredita que a decisão do Copom foi acertada. "O principal objetivo da política monetária é o cumprimento da meta de inflação. Portanto, se ainda existem incertezas no cenário que podem prejudicar o cumprimento da meta, a decisão do Banco Central não poderia ser outra", explica Cunha. Os índices de inflação foram muito pressionados durante este ano devido à forte alta do dólar. O limite máximo para a meta de inflação em 2001, com possibilidade de alta ou baixa de dois pontos porcentuais, já foi ultrapassada. Até novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a meta de inflação, já está em 6,98%. A queda do dólar nos últimos dias reduz o custo dos produtos importados, o que facilita uma queda nos índices de inflação. Além disso, a redução nos preços dos combustíveis de 16,8% já em janeiro e a previsão de reajuste das tarifas de energia em 19,9%, quando a perspectiva era de uma elevação de 30%, também favorecem esta tendência. Em 2002, a meta é de 3,5%, também com possibilidade de alta ou baixa de dois porcentuais. O Banco Central já deixou claro que as taxas de juros só voltarão a recuar quando a inflação estiver sob controle. Dólar recuou mas inflação ainda preocupa Nos últimos dias, a moeda norte-americana recuou muito. Hoje, por exemplo, o dólar oficial fechou em R$ 2,2930 - uma baixa de 18,12% em relação ao patamar máximo alcançado após os atentados terroristas, quando a moeda norte-americana chegou a ser vendida a R$ 2,8007 no dia 21 de setembro. Segundo Cunha, o movimento dos preços não acompanha o comportamento do dólar de forma imediata. Isso significa que, apesar do recuo das cotações da moeda norte-americana, o impacto nos índices de inflação pode levar um tempo. Sem adotar viés, o Copom define que a taxa Selic não recuará antes da próxima reunião do Comitê, marcada para 22 e 23 de janeiro. O diretor do BNL Asset Management, Claudio Lellis, não acredita em um corte de juros no curto prazo, já que a tendência para o dólar - fator que influencia a inflação - ainda é muito incerta. Incertezas podem pressionar o dólar Lellis avalia que o fato de o Brasil ser muito dependente de capital externo para fechar as suas contas deixa o País muito vulnerável ao cenário externo. "A questão argentina ainda pode mexer com o mercado cambial no Brasil, mesmo que momentaneamente. E, mais importante do que isso, a economia norte-americana e mundial está em forte desaquecimento, o que pode comprometer a entrada de dólares no mercado interno no próximo ano", afirma Lellis. Hoje, durante a reunião do Comitê, a correspondente Marina Guimarães apurou junto a uma alta fonte da Casa Rosada que o governo argentino decidiu adotar o estado de sítio, devido ao grande número de saques no país. Já a Câmara dos Deputados decidiu revogar os superpoderes do Executivo, especialmente do ministro de Economia, Domingo Cavallo. Com isso, a Câmara derrubou a lei que limitava as retiradas bancárias mensais em até US$ 1 mil para as contas em que são depositados salários, aposentadorias e pensões. A medida ainda deve ser aprovada pelo Senado. Em relação à dependência de dólares que o Brasil tem para financiar suas dívidas, o Banco Central divulgou hoje o balanço das contas externas do País. Um dos pontos mais importantes é o aumento da perspectivas para investimentos diretos em 2002 - de US$ 16,009 bilhões para US$ 17,999 bilhões. Além disso, neste ano, o BC avalia que os investimentos diretos devem encerrar o ano com um investimento direto em US$ 19,999 bilhões, quando a expectativa anterior era de US$ 19,011 bilhões. "Apesar desta melhora, é importante lembrar que, no início deste ano, esta perspectiva era de US$ 25 bilhões", afirma. Diante destas incertezas, o diretor da mesa de operação do ABN Amro Asset Management, Mailson Hykavei, concorda com a avaliação de que ainda existe risco de que o dólar volte a subir no próximo ano e, portanto, o cumprimento da meta de inflação em 2002 não pode ser dado como um fato garantido. "Além do cenário externo, que pode provocar oscilações nas taxas de câmbio, também a proximidade das eleições presidenciais em 2002 pode provocar nervosismo entre os investidores", diz Hykavei. Sobre este aspecto, o economista-chefe da Sul América Investimentos, Luiz Carlos Costa Rego, afirma que as últimas pesquisas de opinião pública, que indicam a governadora do Maranhão Roseana Sarney em segundo lugar na corrida para a Presidência da República, contribuem para o equilíbrio das cotações do dólar nos últimos dias. Veja no link abaixo as principais recomendações para os investimentos e o comportamento para as taxas de juros no crédito ao consumidor.

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