Copom eleva Selic para 12,75%, maior patamar em mais de 5 anos

Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros pela décima vez seguida para conter a alta da inflação

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Por Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues
3 min de leitura

BRASÍLIA - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic (a taxa básica de juros) de 11,75% para 12,75% ao ano e sacramentou o mais longo ciclo de aperto monetário ininterrupto da história do comitê, após 10 aumentos seguidos.

Com o aumento a 12,75%, a Selic alcançou o maior patamar desde fevereiro de 2017 (13%), para tentar debelar um processo inflacionário que não para de surpreender. O choque de juros neste ciclo, iniciado em março de 2021, já é o mais forte desde 1999, quando o BC elevou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só.

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O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

A decisão desta quarta-feira, 4, era esperada pelo mercado financeiro, após o BC sinalizar no Copom de março vontade de repetir a dose de um ponto percentual no encontro seguinte. Todas as 54 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast previam alta da Selic de um ponto porcentual, para 12,75% ao ano.

Apesar de ter cumprido a promessa de elevar a Selic em 1pp em maio, o BC teve de abrir mão de terminar o aperto monetário nesta reunião. Em comunicações oficiais do Copom de março, o BC havia indicado a intenção de finalizar a alta de juros em maio, embora tenha garantido que estaria pronto para ajustar o tamanho do ciclo caso os choques derivados da guerra na Ucrânia se mostrassem maiores ou mais persistentes. 

Diante da piora da inflação corrente e das expectativas, e de notícias desfavoráveis no exterior, o BC disse no comunicado de hoje que prevê uma alta menor no próximo encontro, em junho. O mercado financeiro aposta em aumento de 0,5 pp.

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"O Comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação", afirmou o colegiado. "O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária".

Sede do Banco Central; autarquiadivulgou ata da última reunião do Copom Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A alta de juros ocorre no mesmo dia em que o Federal Reserve, o banco central americano, também decidiu elevar a taxa básica do país em 0,5 ponto percentual, para uma faixa entre 0,75% a 1% ao ano. Foi o maior aumento de juros feitos nos EUA desde o ano 2000. Apesar de baixa em comparação com a Selic, a taxa americana tende a subir este ano, uma vez que o Fed ainda está no início do ciclo de aperto monetário.

Os EUA, assim como o Brasil, enfrentam uma inflação elevada e o BC americano busca frear a alta de preços elevando os juros. É uma forma de esfriar a demanda na economia, uma vez que a alta de juros torna o crédito mais caros. Com taxas mais elevadas, consumidores tendem a consumir menos e as empresas podem postergar investimentos. 

Maior juro real do mundo

Com o novo aumento da Selic, o Brasil voltou a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 6,69% ao ano. 

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Em segundo lugar na lista que considera economias mais relevantes, aparece a Colômbia (3,86%), seguida de México (3,59%). A média dos 40 países avaliados é de -1,73%.

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