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Crédito imobiliário deve ficar estável ou recuar este ano, diz associação

No pior cenário, crédito pode diminuir cerca de 10%, para R$ 100 bilhões; expectativa anterior da entidade apontava expansão de 5%

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Por Aline Bronzati (Broadcast)
Atualização:

SÃO PAULO - Os desembolsos do crédito imobiliário devem ficar estáveis neste ano ou recuar cerca de 10%, para R$ 100 bilhões no pior cenário, de acordo com o presidente Octavio de Lazari Júnior, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). A expectativa anterior da entidade apontava expansão de 5% neste exercício, para R$ 119 bilhões.

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"Desde que fizemos as projeções, as variáveis mudaram totalmente. Tivemos um deslocamento dos juros e uma saída expressiva de depósitos da poupança, de cerca de R$ 29 bilhões. No cenário atual, com restrição de recursos, vamos no máximo repetir desembolsos do ano passado", lembrou ele, em conversa com jornalistas, durante evento da Abecip.

Apesar da queda nos desembolsos no primeiro trimestre, de 4,6% ante um ano, Lazari disse que o mês de abril já foi melhor e registrou crescimento na comparação com o mesmo mês de 2014, totalizando R$ 9 bilhões. Com isso, de janeiro a abril, o mercado de crédito imobiliário desembolsou R$ 33,5 bilhões, segundo ele, mas o volume deve ser impulsionado no segundo semestre que, sazonalmente, é melhor.

Expectativa anterior da Abecip para o crédito imobiliárioera de expansão de 5% neste ano Foto: Zeca Wittner/Estadão

Sobre as retiradas da poupança, o presidente da Abecip reafirmou que a entidade espera saídas líquidas de R$ 50 bilhões este ano. Mesmo assim, o saldo atual é, conforme ele, suficiente para financiar o crédito imobiliário neste ano.

Lazari destacou, contudo, que alternativas para o crédito imobiliário são necessárias para o próximo ano e bem-vindas para 2015. Dentre os temas em discussão, estão flexibilização do compulsório; mudança na regra de aplicação da poupança com a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para todos os bancos (e não somente a Caixa e o BB); ampliação do teto para as operações que utilizam tais recursos, que só beneficiaria quem já tem acesso ao FGTS, e aumento do limite do valor dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

"Com a liberação de 5% do depósito compulsório mais a liberação dos recursos do FGTS teríamos algo em torno de R$ 50 bilhões, cifra suficiente para financiar o crédito imobiliário por um semestre", calculou Lazari.

Questionado sobre o aumento dos juros no segmento, ele afirmou que as elevações promovidas pelos bancos já foram suficientes para equiparar as taxas à Selic atual, descartando novas elevações. Além da Caixa Econômica Federal, que fez dois aumentos, Banco do Brasil e Banrisul também aumentaram os juros no imobiliário. Em relação às condições dos financiamentos, porém, o presidente da Abecip disse que tudo vai depender da demanda por crédito, retiradas da poupança e liberação de alternativas por parte do governo.

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Alternativa. A regulamentação da Letra Imobiliária Garantida (LIG), a cargo do Conselho Monetário Nacional (CMN), deve ser publicada até setembro deste ano e as primeiras emissões, provavelmente, só em 2016, de acordo com o presidente da Abecip. "Com a situação dos juros atual, não sei se é possível testar emissões de LIG já este ano, mas o arcabouço regulatório deve ficar pronto. Não adianta colocar papel no mercado sem atratividade", avaliou.

A Letra Imobiliária Garantida terá dupla garantia: os imóveis lastreados no título e ainda do próprio banco emissor. O título foi aprovado pela presidente Dilma Rousseff em 19 de janeiro. Em fase de desenvolvimento há mais de três anos no Brasil, a LIG se assemelha aos covered bonds existentes na Europa e são mais um instrumento de captação de recursos para os bancos financiarem o crédito imobiliário. 

Lazari afirmou que os juros mais elevados encarecem o custo de emissão das LIGs ainda que o título tenha isenção fiscal de Imposto de Renda, o que atrai os investidores. Antes, a expectativa inicial da Abecip é de que as primeiras operações dos covered bonds brasileiros ocorressem ainda na primeira metade de 2015, entretanto, a discussão da regulamentação e o cenário atual postergaram a conclusão do arcabouço. Um dos pontos em debate, segundo Lazari, é a forma como será feita a garantia, se uma a uma ou toda a carteira.

Apesar dos juros maiores encarecerem instrumentos de securitização, Lazari disse que os covered bonds brasileiros, em discussão nos últimos dez anos, devem ter efeito positivo para o mercado imobiliário. Acrescentou ainda que a conjuntura econômica é "complicada", mas não se deve esperar um "tempo de bonança" para agir. "A LIG é fundamental para evitar estrangulamento de recursos no crédito imobiliário que não enfrentávamos antes, mas estamos vivendo agora", afirmou.

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