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Cresce risco da inflação de 2016 furar teto da meta do governo

Dólar caro e alta de combustíveis levam especialistas a prever IPCA acima de 6,5%

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:
Para especialistas, a política monetária do BC - que utiliza a taxa de juros para controlar a inflação - já não tem mais tanto efeito Foto: Andre Dusek/Estadão

As previsões para a inflação de 2016 estão sofrendo uma forte piora. A combinação da alta do dólar com o reajuste do combustível está levando as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano que vem para o limite ou mesmo para acima do teto da meta.

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Se os números se confirmarem, a economia brasileira pode colher dois anos seguidos com uma inflação acima de 6,5%. “No ano que vem, a inflação deve ficar incomodamente em torno dos 6,5%, um pouco mais, um pouco menos. Vai depender de chuvas e trovoadas”, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

Para 2015, as previsões para o IPCA estão próximas e até superam 10%, após a Petrobrás anunciar o aumento dos preços da gasolina e do diesel na semana passada. A alta do combustível deve impactar os preços deste ano com mais intensidade, mas a inércia inflacionária deve carregar parte do efeito do reajuste para 2016. “Existe essa maior inércia, mas o câmbio foi o carro-chefe que motivou a projeção maior para o IPCA do ano que vem”, afirma Fábio Romão, economista da LCA.

O quadro da inflação pode ser agravado se a equipe econômica optar pela alta da alíquota da Cide para cobrir o déficit no Orçamento do ano que vem. A LCA já incorporou o aumento da Cide e, com isso, a previsão do IPCA deste ano é de 10,5%.

Pouca margem. A piora do quadro inflacionário torna a situação do Banco Central ainda mais complicada porque, na avaliação dos analistas, a política monetária já não tem mais tanto efeito sobre a alta dos preços. Dessa forma, um aumento dos juros para evitar que o IPCA rompa o teto da meta pode ser inócuo, já uma queda da Selic pode indicar leniência na condução da política monetária.

A questão, agora, passou a ser a política fiscal. A incerteza com as contas públicas brasileiras tem aumentado a percepção sobre o risco da economia brasileira e, consequentemente, provocado a depreciação da taxa de câmbio. Por ora, o governo promete entregar um superávit primário de 0,15% do PIB em 2015 e de 0,7% do PIB no ano que vem. O cumprimento desses números, porém, é questionado pelo mercado.

“A situação fiscal parece insustentável. Para 2016, vemos uma inflação muito próxima do teto da meta, com viés de alta”, afirma Vinícius Botelho, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE). “O Banco Central tem demonstrado algum tipo de preocupação com essa situação, mas qualquer tipo de atuação tende a ser inócua”, afirma.

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Plano frustrado. Ao longo do ano, o forte ajuste promovido pelo governo estava conseguindo levar as expectativas para a inflação do ano que vem para baixo. Na visão dos analistas, um IPCA mais modesto poderia vir acompanhado de uma redução da taxa básica de juros (Selic), o que poderia ajudar no quadro recessivo da economia.

Com a deterioração do cenário, os analistas passaram a esperar uma redução da Selic em meados de 2016 ou mesmo somente em 2017. “A queda da Selic não deve ocorrer no ano que vem diante da nova realidade de inflação no teto da meta”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada.

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