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Crise e dólar alto freiam invasão de carros chineses

Única das dez chinesas que anunciaram fábricas no País a iniciar operações, Chery reduziu previsão de produção para 25 mil este ano

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Inaugurada em meio ao furacão econômico que derrubou as vendas de veículos no Brasil, a montadora chinesa Chery reduziu de 30 mil para 25 mil a previsão de produção para este ano. Com isso, a fábrica de Jacareí (SP) vai operar com metade de sua capacidade instalada, mesmo com o projeto de lançar mais um produto até o fim do ano. Inicialmente, a fábrica foi projetada para uma capacidade de 150 mil carros ao ano, mas teve o plano alterado para 50 mil.

Linha de montagem do Celer, da Chery, que reduziu suas projeções de produção para o ano e vai operar com metade de sua capacidade Foto: José Patrício/Estadão

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"Não está sendo fácil", diz o vice-presidente da Chery no Brasil, Luis Curi. Além do fraco desempenho do mercado automotivo em razão da crise econômica, ele ressalta que a disparada do dólar provocou "um baque grande" nas atividades. O Celer, primeiro carro em produção no País, tem 55% a 65% de componentes importados.

Apesar das agruras vividas pela novata, a Chery é a única entre dez marcas chinesas que anunciaram fábricas de automóveis no País a iniciar operações. Os outros projetos por enquanto não foram adiante.

Somados todos os investimentos anunciados nos últimos anos, os chineses planejavam aplicar o equivalente a R$ 8,7 bilhões no País.

A JAC Motors chegou ao Brasil com estardalhaço - tinha como garoto-propaganda o apresentador Fausto Silva e inaugurou 48 lojas num mesmo dia, em 18 de março de 2011.

Em novembro de 2012 fez cerimônia da pedra fundamental da fábrica em Camaçari (BA), e enterrou um modelo J3 numa "cápsula do tempo". A área passou por terraplenagem e, desde então, aguarda as obras do prédio. O investimento de R$ 900 milhões previa capacidade para 100 mil veículos ao ano.

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Nesse período, a composição acionária da JAC Motors do Brasil mudou. O empresário brasileiro Sérgio Habib, presidente do Grupo SHC, detinha 66% das ações e o grupo chinês, 34%. A sociedade foi invertida e ele passou a sócio minoritário.

A última previsão do grupo era de que as obras começariam em abril, mas a data já não é mais confirmada. A empresa aguarda a liberação de um empréstimo de R$ 120 milhões da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) que está sendo analisado desde setembro, sem data para conclusão.

Outras marcas de automóveis cujos projetos ainda não saíram do papel são Changan, Hafei, Haima, Great Wall, Jinbei e Effa. A Lifan informou em 2014 que pretende ter unidade local em três anos. A Geely disse em outubro que anunciaria sua filial "nos próximos meses", mas agora o representante da marca no País, o grupo Gandini, diz não ter novidades sobre o tema.

Participação. A invasão chinesa que se vislumbrou há dez anos não se concretizou, nem entre importados. O cenário para as marcas do país asiático já não era favorável desde que o governo instituiu a cobrança extra de 30 pontos porcentuais de IPI, em 2012. Piorou com a queda do mercado total e se complicou com a alta do dólar.

Em 2009, a previsão de empresários do setor era de que as marcas chinesas representariam, hoje, 5% das vendas totais de automóveis e comerciais leves no País. No ano passado, contudo, essa participação ficou em 0,7%, com vendas de 24,8 mil veículos. No primeiro bimestre deste ano, a fatia está em 0,8%, com 3,6 mil veículos.

"Há uma resistência do consumidor brasileiro em aceitar novas marcas porque os produtos introduzidos até agora oferecem qualidade abaixo das expectativas", diz Stephan Keese, da consultoria Roland Berger.

Segundo ele, também houve percepção de alguns empresários chineses de que "o Brasil é um país difícil para negócios e operar uma fábrica e uma rede de distribuição é complicado". Keese, contudo, avalia que os chineses ainda consideram o País atrativo. "Talvez agora não seja um período interessante, mas tenho certeza de que no longo prazo os chineses virão."

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Compacto. Enquanto tenta driblar as dificuldades atuais, a Chery, que em fevereiro iniciou a produção comercial do Celer - fruto de um investimentos de US$ 400 milhões -, prepara a chegada do compacto QQ para o segundo semestre. O projeto deve levar a algumas contratações. Hoje, a fábrica emprega 600 pessoas, informa Curi.

Em 2016, a fábrica deve ganhar mais dois produtos, o utilitário Tiggo 5 e um carro que está em desenvolvimento na China. "Precisamos atingir a produção de 50 mil veículos ao ano pois com 25 mil não é possível operar com rentabilidade", afirma Curi, que também reclama de custos adicionais, como a alta de 30% na energia elétrica.

Para ajudar numa nova estratégia para o grupo, a Chery chinesa indicou recentemente o vice-presidente global Wong Chingthung para acompanhar a filial brasileira. Ele é responsável pelas operações no Oriente Médio e Ásia e passa a acumular o Brasil em suas tarefas.

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