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Crise econômica no Brasil afeta balanços de gigantes do agronegócio dos EUA

Grandes empresas como Monsanto, FMC Corporation, Bunge e AGCO sentem desvalorização do real e enfraquecimento nas vendas de produtos para o Brasil

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast) e correspondente em Nova York
Atualização:
Presidente executivo da AGCO, Martin Richenhagen Foto: NIELS ANDREAS/ESTADÃO

A piora da economia brasileira, mesmo com o setor de agronegócios apresentando melhor desempenho que outros segmentos, afetou os resultados de grandes empresas multinacionais dos Estados Unidos, como a Monsanto, a FMC Corporation, a Bunge e a fabricante de máquinas agrícolas AGCO, principalmente por causa da forte desvalorização do real e do enfraquecimento das vendas de alguns produtos, como alimentos.

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A piora da economia brasileira foi destacada pelas diretorias de várias empresas ligadas ao agronegócio nas teleconferências da atual temporada de divulgação de resultados, mencionada nos informes de resultados e questionada pelos analistas, de bancos como Goldman Sachs e Barclays, nas conversas com os executivos. O destaque positivo foi a soja, com aumento da demanda, apurou o Broadcast Agro, serviço de notícias do agronegócio em tempo real da Agência Estado.

No geral, as matrizes de empresas como Bunge, FMC Corporation e Monsanto apresentaram queda nas receitas e nos lucros, algumas com fortes prejuízos. A desvalorização do real ante o dólar foi mencionada como fator chave em várias teleconferências para explicar a piora dos números. A moeda brasileira foi uma das que mais perderam valor no mundo frente à divisa dos EUA, o que reduz as receitas em dólar das companhias, além de afetar custos com proteção ("hedge") cambial e outras despesas, como a importação de produtos no Brasil.

A fabricante de máquinas agrícolas AGCO reportou recuo no trimestre de 49,1% nas vendas na América do Sul, puxadas pelo Brasil. "As vendas no varejo na América Latina foram extremamente fracas, reflexos de incertezas políticas e uma depressão geral na economia do Brasil", afirmou o chairman e presidente executivo da empresa, Martin Richenhagen, em teleconferência para comentar os resultados. "A incerteza sobre o cenário político e a fraqueza na economia estão tendo impacto negativo na demanda no Brasil."

O executivo da AGCO não poupou críticas ao governo brasileiro, afirmando que Brasília "não entende" a importância do setor agrícola para o País e que o segmento precisa demonstrar mais sua insatisfação para ser ouvido. Richenhagen disse ter visitado Brasília recentemente e conversado com diferentes pessoas no ministério da Agricultura, mas a situação no País no momento é "muito, muito difícil". 

A FMC, especializada em produtos químicos para o setor agrícola, reduziu a previsão de lucro para 2015 citando como principal razão o real mais fraco. No terceiro trimestre, a divisa brasileira caiu mais de 25% e "afetou significativamente" os números, o que contribuiu para o prejuízo de US$ 2,4 bilhões da companhia, com sede na Pensilvânia. "Com a notável exceção do Brasil, todos nossos mercados estão indo bem", disse o presidente executivo da empresa, Pierre Brondeau, em teleconferência de resultados. A expectativa, afirmou ele, é que as vendas de produtos químicos da FMC no País este ano recuem entre 15% e 19%.

Ao reportar aumento de prejuízo em seu quarto trimestre fiscal de 2015, a Monsanto ressaltou a melhora da perspectiva para a produção de soja no Brasil, por causa da área plantada com a tecnologia Intacta, que deve dobrar para 30 milhões de acres no ano fiscal de 2016. "Mas a moeda deve reduzir o esperado crescimento no lucro bruto", disse o diretor financeiro da companhia, Pierre Courduroux, na teleconferência com analistas.

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Uma das estratégias da Monsanto para lidar com a desvalorização do real foi aumentar os preços da soja em real no Brasil, o que ofuscou parte dos impactos negativos da queda da moeda, disse o executivo na teleconferência. Na FMC, os preços de seus produtos também foram elevados, mas a compensação, segundo o presidente da companhia, foi parcial.

Na Bunge, o presidente executivo (CEO), Soren Schroder, afirmou na teleconferência nesta quinta-feira que as operações com soja vão bem no Brasil, mas mencionou desafios na área de "alimentos e ingredientes" devido ao cenário econômico muito difícil no País, com queda no consumo e redução de estoques, e da rápida desvalorização do real. O executivo ressaltou a queda de 8% nos volumes de alimentos no Brasil no terceiro trimestre por cauda da recessão na economia e disse que a empresa está firme em conter custos, em meio a margens mais pressionadas.

Na área de fertilizantes da Bunge houve prejuízo, influenciado pela piora na Argentina e pelo real mais fraco. A Bunge reportou hoje queda de 18,7% no lucro mundial e de 21% nas receitas. Pelo lado positivo, o executivo da Bunge avalia que a queda da moeda brasileira vai ajudar as exportações do país.

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