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CSN deve fazer pente-fino em contratos da Usiminas

Endividada e obrigada a se desfazer de sua fatia na Usiminas por decisão do Cade, siderúrgica de Steinbruch tenta valorizar ações da companhia

Foto do author Fernanda Guimarães
Por Monica Scaramuzzo e Fernanda Guimarães
Atualização:
  Foto: WILTON JUNIOR | AE

Considerada carta fora do baralho na Usiminas, a CSN, do empresário Benjamin Steinbruch, voltou à cena com a decisão do Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) de autorizar o grupo a indicar nomes para o conselho de administração e fiscal. A autorização do Cade pegou todos de surpresa, inclusive a própria CSN que já tinha feito o mesmo pedido em 2015, sem sucesso, e tem de se desfazer de suas ações na siderúrgica mineira.

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Com 14% das ações ordinárias e 20% das preferenciais, a CSN começou a comprar ações na Usiminas em 2011. “A CSN quer fazer barulho e está conseguindo”, disse uma fonte familiarizada com o assunto. E é verdade. A CSN quer incomodar. Fontes afirmam que todos os contratos feitos na Usiminas envolvendo os sócios passarão por um pente-fino com objetivo de detectar possíveis favorecimentos de contratos dos sócios da siderúrgica com fornecedores e detectar onde é possível cortar custos. 

Ao Estado, Paulo Caffarelli, ex-Banco do Brasil e diretor executivo da CSN, não comenta os próximos passos a partir da decisão do Cade. Afirmou que a intenção da companhia é “salvar a Usiminas e proteger os minoritários”. Mas o fato é que a CSN não é um minoritário qualquer. O grupo é o maior acionista fora do bloco de controle - fez um investimento de cerca de R$ 3 bilhões para comprar ações da companhia, que hoje são avaliadas em cerca de R$ 500 milhões. A companhia precisa fazer com que as ações da Usiminas se valorizem. 

Steinbruch vai ter de se desfazer dessas ações. O prazo para sair do negócio está sob sigilo.

Fontes afirmam que a CSN já tentou oferecer sua fatia tanto para Nippon quanto para Techint. Nenhum dos envolvidos comenta o assunto.

Com uma dívida bruta de R$ 35,3 bilhões, a CSN, assim como a sua rival Usiminas, colocou seus ativos à venda, mas não avançou neste sentido ainda. “A CSN tem um histórico de colocar negócios à venda e voltar atrás. Agora dizem que não querem vender, mas buscar sócios minoritários. Ninguém quer ser sócio da CSN”, disse uma fonte do mercado financeiro. “A companhia está queimando cerca de R$ 3 bilhões de caixa este ano somente para pagar os juros da dívida”, disse outra fonte.

Caffarelli disse que a companhia recebeu propostas por seus ativos, mas ainda não fechou negócio. As renegociações das dívidas de curto prazo, que somam R$ 5,4 bilhões, com o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal foram estendidas de 2016/2017 para 2020/2021. Isso dá mais fôlego para a companhia não vender ativos na bacia das almas.

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Além das ações da Usiminas, a companhia poderá se desfazer de fatia da ferrovia MRS, os portos de Tecon, de contêineres (considerado o ativo mais próximo de ser vendido), e de Sepetiba, e vender sua divisão de cimento, que passa por um momento ruim. O projeto da ferrovia Transnordestina corre o risco de ser paralisado. Caffarelli diz que esse projeto, para avançar, não depende do grupo, mas do governo. O executivo afirmou que há ainda alguns imóveis do grupo, que somam cerca de R$ 2 bilhões.   A saúde financeira da companhia, assim como a da Usiminas, é frágil. A recuperação dos preços do minério neste ano até tem dado um fôlego para a companhia, mas não é suficiente para garantir para o grupo respirar mais aliviado.

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