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Custo Brasil afeta disputa com a China

País terá de adotar uma política industrial agressiva para concorrer com produto chinês tanto no mercado doméstico quanto no internacional

Por Luiz Guilherme Gerbelli e Renée Pereira
Atualização:

A retomada da indústria brasileira no mundo após a ascensão da China exigirá uma política mais agressiva para o setor e uma concentração de esforços bem maior do que adotada até agora para reduzir o famigerado Custo Brasil. Ainda assim, alguns setores continuarão sofrendo com a concorrência chinesa por causa da enorme escala de produção do país asiático. 

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Com escala, a economia chinesa é capaz de produzir grandes quantidades de produtos por um preço mais baixo do que os dos países concorrentes. A China ainda tem a vantagem do custo da mão de obra mais baixo, apesar de os salários terem aumentado nos últimos anos. 

“Competir com a China não dá, seja para o Brasil ou para qualquer outro país industrializado. O modelo de desenvolvimento chinês é diferente de qualquer modelo de países de industrialização avançada”, afirma a secretaria de Desenvolvimento da Produção, Heloisa Menezes, do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Um levantamento da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que, na comparação com um similar importador, um produto brasileiro é 32,3% mais caro do que um similar chinês importado. 

“A indústria brasileira foi negligenciada”, afirma o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz. “A concorrência que a China imprime no mundo todo limita muito esse processo (de retomada da indústria brasileira)”, afirma Julio Sergio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

A dificuldade na competição com produtos importados ficou evidente para a indústria de aço, sobretudo depois da crise financeira internacional de 2008. A relação entre importação e consumo que variava entre 5% e 6% saltou para 20% em 2010, com um surto de produtos importados. Esse porcentual reduziu um pouco neste ano, para 13%, ainda acima da média. “Se nada for feito, em 2023, 53% do consumo de aço no mercado doméstico virá do exterior”, afirma o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.

De acordo com ele, a competitividade da indústria foi abalada por uma série de fatores sistêmicos, como o elevado preço da energia elétrica (o governo prometeu 20% de queda no preço da energia, mas a indústria só conseguiu 7%) e do gás natural, a cumulatividade dos impostos e a pesada carga tributária. Junta-se a isso o excedente de 600 milhões de toneladas de aço no mundo por causa da desaceleração econômica do mercado global. 

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“Estamos inseridos dentro de uma perversidade econômica. Não consigo exportar e não tenho condições de competir com o produto importado”, afirma Lopes. Com isso, o setor que deveria operar acima de 80% da capacidade instalada, hoje não passa dos 70%. A participação no Produto Interno Bruto (PIB) também diminuiu – era de 1,8% em 2004, e ficou em 0,7% no ano passado. “É preciso haver uma correção das assimetrias para melhorar a competitividade da indústria.” 

Retomada. Apesar da concorrência maior, a indústria brasileira pode voltar a crescer. O País é dono de um poderoso mercado consumidor interno – que pode ajudar a sustentar uma retomada – e tem no seu parque fabril as principais indústrias do mundo. 

No passado, na década de 80, o potencial brasileiro levou o Brasil a ser a sétima maior economia industrial década de 80. Hoje, está na 12.ª posição. Por causa da baixa competitividade dos últimos anos fomos ultrapassados pela indústria de países como China e Coreia do Sul. “Se o País conseguir resolver os problemas básicos da economia, poderá pensar numa política industrial menos defensiva e mais atrevida”, afirma Almeida.

A possibilidade de uma retomada da indústria no Brasil passa por uma agenda pesada, na avaliação de Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), com a qualificação da mão de obra, melhoria da infraestrutura, revisão do tamanho e complexidade da carga tributária. “Essa agenda é totalmente factível. É preciso criar um ambiente correto daquilo que não depende das empresas”, afirma Castelar.

Taxa de juros e câmbio comportados também são dever de casa para devolver a competitividade da indústria nacional.

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