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Custo do gás de xisto é desafio para americanos

Mesmo com barril do petróleo cotado acima de US$ 100, produtores independentes gastam mais dinheiro do que recebem

Por BLOOMBERG NEWS e NOVA YORK
Atualização:

O caminho para os Estados Unidos se tornarem independentes em energia deve ser mais difícil do que parece, mesmo com o boom do gás de xisto (shale gas). O principal entrave é que os produtores independentes terão de gastar US$ 1,50 a cada perfuração este ano para cada dólar que eles terão de volta.Um outro desafio é que a produção do gás de xisto declina mais rapidamente que a produção convencional. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), os produtores terão de abrir 2,5 mil novos poços por ano para sustentar a produção de 1 milhão de barris por dia em Dakota do Norte, por exemplo. Para efeito de comparação, o Iraque pode fazer o mesmo com 60 poços.Considere a Sanchez Energy Corp. A companhia sediada em Houston planeja investir US$ 600 milhões este ano, o dobro da receita estimada para 2013, no poço de gás de xisto Eagle Ford, no sul do Texas. Esse poço e o de Dakota do Norte ajudaram a empurrar a produção de petróleo dos Estados Unidos para o nível mais alto em quase 26 anos. Mas o poço Sante North 1H, da Sanchez, retira cinco vezes mais água do que óleo."Estamos começando a viver em um mundo diferente, onde cada vez mais a extração do óleo consome mais energia, mais esforço e vai ser mais caro", disse Tad Patzek, presidente do Departamento de Engenharia de Petróleo e Geosistemas na Universidade do Texas.A indústria de petróleo também está pressionando para manter o ritmo de ganho sem precedentes na produção da commodity - desde o fim de 2011, cresceu 39%. No entanto, para os Estados Unidos alcançarem a autossuficiência, o preço do petróleo precisa estar suficientemente alto para compensar os custos e o crédito, mais fácil. Mesmo com barril de petróleo cotado acima de US$ 100, os produtores de xisto estão gastando mais dinheiro do que recebendo.Sem saída. O grande entrave é que a indústria de petróleo dos Estados Unidos precisa correr apenas para ficar no mesmo lugar. Os perfuradores americanos devem gastar mais de US$ 2,8 trilhões até 2035, mesmo que a produção atinja o pico na década anterior, segundo a IEA. O Oriente Médio vai gastar menos de um terço desse valor para obter três vezes mais petróleo.Os poços de xisto podem variar de preço. A Chesapeake Energy Corp. vai gastar uma média de US$ 6,4 milhões este ano em cada poço, segundo uma apresentação feita para investidores. A Goodrich Petroleum Corp - localizada em Houston - vai colocar US$ 13 milhões em alguns dos seus poços. O preço do barril não fica abaixo dos US$ 80 desde 2012 e está acima dos US$ 90 desde maio do ano passado. "O renascimento da indústria de petróleo e gás dos Estados Unidos está recebendo um investimento significante", afirmou Rick Boot, presidente e diretor de operações da Continental Resources Inc. em Oklahoma. Harold Hamm, presidente e executivo-chefe da Continental que ficou famoso por se tonar bilionário com a perfuração de poços nos Estados Unidos, disse aos legisladores em 30 de janeiro que os Estados Unidos podem alcançar a independências energética até 2020. Os dados da Energy Information Administration mostram que 86% da energia dos EUA foi produzida pelo próprio país no ano passado. A média de produção dos Estados Unidos chegará a 9,2 milhões de barris por dia até 2015, acima dos 7,4 milhões no ano passado, segundo a EIA, o braço estatístico do Departamento de Energia dos EUA. O Colorado impulsionou a produção em 11% nos 11 primeiros meses de 2013. Wyoming cresceu 12%, e Oklahoma avançou 24%."Eu não vejo o boom do xisto chegando ao final", disse Andy Lipow, presidente da Lipow Oil Associates, uma empresa de consultoria energética de Houston. "Nós estamos começando em lugares como Colorado, Wyoming e Oklahoma."A Sanchez Energia disse em um comunicado de 19 de fevereiro que o poço Norte 1H ainda não está esgotado e vai produzir mais petróleo do que o relatório inicial sugerido. A empresa também disse que tem 120 mil acres em Eagle Ford e planeja gastar 90% do seu orçamento de exploração no local este ano. Erro. Os defensores do gás de xisto têm, entretanto, cometido um equívoco, segundo Patzek. Eles estão dizendo que a exploração pode ser facilmente replicada para todas as partes do país. "Isso não é o caso", afirmou. Cada rocha é diferente.A produção do gás de xisto também recua rapidamente, cerca de 60% a 70% no primeiro ano. Isso obriga as companhias a perfurarem novos poços para recuperar a produtividade perdida. "A empresa acaba tendo de perfurar mais e também acaba gastando mais", disse Mark Young, da Evaluate Energy.Segundo Leonardo Maugeri, ex-gerente da sede em Roma da companhia de energia Eni, que está pesquisando a geopolítica da energia em Belfer Center da Universidade de Harvard para Ciência e Assuntos Internacionais, a queda no preço do barril abaixo de US$ 85 pode exercer pressão sobre os operadores que estão se esforçando para conter os custos. "Enquanto o boom poderia sobreviver a um breve mergulho dos preços do petróleo, um longo declínio poderia retardar a perfuração, o que pode fazer a produção cair rapidamente", disse Maugeri. "Para sustentar no curto prazo, os EUA precisam de preços em US $ 65 o barril", disse Maugeri. "Abaixo desse nível, muitas oportunidades vão desaparecer."O contrato de petróleo de referência dos EUA para o petróleo bruto com entrega para abril 2016 está sendo negociado a US$ 85 por barril, um valor US$ 18 menor por barril do que o negociado hoje.

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