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De Norte a Sul do País, obras paradas elevam desemprego

Sondagem da Comissão de Obras Públicas, da CBIC, mostra que 68% dos projetos de suas associadas estão parados ou em ritmo lento

Por RENÉE PEREIRA
Atualização:

Da distante Pimenta Bueno, em Rondônia, passando pela promissora Barreiras, no Oeste da Bahia, até a pequena Pantano Grande, no Rio Grande do Sul, são mais de 5 mil quilômetros de distância. Cada uma está localizada numa região do País e tem características econômicas bem distintas. Mas, nos últimos meses, passaram a compartilhar de um mesmo mal: a paralisação de obras Brasil afora, que tem provocado demissões em massa no setor de construção.

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Uma sondagem feita pela Comissão de Obras Públicas (COP), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), com seus associados, mostra que 68% das obras estão em ritmo lento ou totalmente paradas. Os empreendimentos – que somam 52 obras – estão espalhados por todos os setores e variam entre restauração e pavimentação de estradas, melhorias em portos, expansão de ferrovias, construção de prédios públicos, escolas e obras de saneamento básico. Além de deixar um rastro de abandono, a paralisação das obras provocou milhares de demissões em várias empresas, que estão com baixo fôlego financeiro para manter as obras em dia.

“Não lembro de ter vivido situação semelhante nos últimos 30 anos”, diz o diretor da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), Carlos Eduardo L. Jorge, integrante da COP. Segundo ele, o impacto da crise econômica se acentuou numa velocidade tão grande que está deixando o setor sem rumo. Do ano passado pra cá, o segmento de construção demitiu um terço da sua força de trabalho – ou seja, cerca de 700 mil trabalhadores perderam seus empregos no período, afirma o presidente da Apeop, Luciano Amadio. “O pior é que a previsão não é de melhora. Outras obras também vão parar nos próximos meses.”

 

Além da Operação Lava Jato, que comprometeu a vida financeira de algumas construtoras, o pano de fundo para as paralisações de obras é o ajuste fiscal do governo federal e sua incapacidade para tocar investimentos cruciais para retomada da economia. A grande reclamação do setor é o atraso no pagamento de obras executadas ou simplesmente a falta de recurso para dar continuidade ao empreendimento. Mas há todo tipo de problema, como dificuldade dos governos para fazer desapropriações necessárias e conseguir as licenças ambientais. 

Obras. Na lista de 19 grandes obras que estão totalmente paradas, está o lote 7 da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), entre Ilhéus e Barreiras, na Bahia. Segundo o levantamento da COP, o projeto está parado por burocracia da estatal Valec. Mas o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção (Sintepav-BA), Irailson Warneaux, diz que o problema é a falta de dinheiro do governo federal. Segundo ele, 250 pessoas trabalham nesse trecho da ferrovia, cujas obras estão 50% concluídas.

No lote 5, que também está praticamente parado, cerca de 1,1 mil trabalhadores foram demitidos, sendo que apenas 900 deles receberam todos os direitos. Outros 300 continuam empregados, mas sem receber salários. “Recentemente a Valec pagou a construtora responsável por esse trecho da obra, mas agora a empresa quer descontar os dias não trabalhados – o que não é justo”, explica Warneaux. 

Segundo ele, outra obra na Bahia que tem sentido os efeitos da falta de dinheiro do governo federal é a pavimentação da BR-235, sonho antigo dos moradores da região. Faltando apenas 30% para o serviço ser concluído, cerca de 1,1 mil funcionários dos consórcios que faziam a pavimentação da rodovia foram demitidos. “Dos cinco lotes, apenas um está com ritmo normal”, diz Warneaux. Segundo o Dnit, o empreendimento está com andamento regular.

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Nas demais obras de rodovias, o órgão federal afirma que as paralisações não se devem a falta de pagamento ou falta de recursos, conforme mostra a sondagem da COP. Nos 28,7 quilômetros de ampliação da BR-290, em Pantano Grande, no Rio Grande do Sul, por exemplo, o Dnit afirma que os projetos não foram concluídos pela empresa e, portanto, a obra não pode ser iniciada. Já a restauração dos 196 quilômetros da BR-364, em Pimenta Bueno (RO), e as obras de um trecho da BR-163 (MT) estão com problemas comerciais, diz o Dnit.

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