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De novo, menos

A cadeia de produção agrícola merece uma salva de palmas por continuar acreditando num País que foi destroçado pela incompetência de quem está no poder

Por Antonio Penteado Mendonça
Atualização:

Mais uma vez, o governo federal faz que vai, mas não vai até o fim. A verba destinada ao subsídio de parte do prêmio do seguro rural é menor do que o necessário. E tem quem ache que nem ela será efetivamente liberada. O número real que o governo deveria destinar para atender os produtores rurais, dando-lhes um mínimo de garantia para investir e se arriscar num negócio onde os imponderáveis são uma ameaça no mundo inteiro, seria algo ao redor de R$ 1bilhão. Mas, em função da crise e da falta de recursos, o governo destinou para esta safra R$ 300 milhões.

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Se o governo vai ou não vai efetivamente liberar o dinheiro é uma discussão complexa, inclusive porque ele tem 180 dias para fazer isso. 

De qualquer forma, R$ 300 milhões é muito pouco para dar tranquilidade ao agricultor. E o plantador de soja fica mais triste ao verificar que R$ 90 milhões serão destinados ao trigos. Nada contra os plantadores de trigo, mas as culturas que geram divisas para o País são essencialmente soja e milho. Então seria mais lógico que elas fossem as beneficiadas com o subsídio do seguro.

A ideia do subsídio de parte do prêmio do seguro do agricultor nasceu em São Paulo, faz muito tempo, o que explica, em certa medida, o sucesso da agricultura do Estado. Há alguns anos, ela foi encampada pelo governo federal, que nem sempre soube vender o peixe com a competência necessária para conseguir a confiança e boa vontade do agricultor. Além do quetambém houve muita estática na conversa com as seguradoras.

No ano passado, com uma verba de R$ 700 milhões prevista para subsidiar o seguro da safra, o governo deu um hipotético calote de R$ 400 milhões nas seguradoras. As seguradoras aceitaram os riscos, pagaram as indenizações, mas não receberam os prêmios totais rapidamente, já que o governo se valeu dos seus 180 dias, levando várias delas a repensarem se vale a pena entrar no negócio. 

Dizem fontes a par do assunto que, por conta do pagamento destes R$ 400 milhões, que foram pagos depois do que as seguradoras esperavam, o governo reduziu o valor destinado aos subsídios para a próxima safra. A pergunta que fica é qual o desenho futuro? O País vai de mal a pior em quase todas as áreas. A exceção é o agronegócio. E é ele que o governo penaliza, dando bem menos do que seria o valor correto para segurar o risco de produzir, num cenário fortemente ameaçado pelos eventos de origem climática, que vão se mostrando cada vez mais violentos e capazes de causar danos severos. 

Não bastasse isso, os seguros atualmente oferecidos são menos abrangentes do que as proteções à disposição dos agricultores norte-americanos; nossas estradas são um desastre; os armazéns, insuficientes; os portos não dão conta do recado; grande parte do transporte é feita por caminhões; a carga tributária é escorchante e, para completar o quadro, a grande maioria dos agricultores, que investe o que têm e o que não têm para tornar o País um dos mais eficientes produtores de alimentos do mundo, não terá o subsídio do preço do seguro para fazer frente às perdas que este ano devem ser potencializados pelo fenômeno do El Niño.

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Se levarmos em conta os disparates que vão sendo feitos em nome da retomada de hipotéticas terras indígenas e da ocupação delas pelos homens brancos, muitas tituladas há mais de 150 anos, o quadro com o qual se depara o agricultor é preocupante, pelo desrespeito à legislação vigente, à verdade histórica e aos investimentos feitos ao longo de décadas de trabalho suado, normalmente sem apoio do governo.

Com menos seguros subsidiados; sem segurança jurídica para a manutenção da propriedade, muitas vezes ocupada há mais de um século; sem sistema de logística eficiente; com a operação onerada por uma carga tributária elevada, a cadeia de produção agrícola merece uma salva de palmas por continuar acreditando numa nação que, do outro lado, foi destroçada pela incompetência, bandalheira e visão equivocada de quem está no poder. 

PANTONIO PENTEADO MENDONÇA É RESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA E COMENTARISTA DA ‘RÁDIO ESTADÃO’

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