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Deflação abre mais espaço para corte no juro

Com queda de 0,23% no IPCA em junho, mercado aposta em Selic a 9,25% este mês

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - Depois de 11 anos, o Brasil voltou a registrar deflação. O IPCA de junho ficou negativo em 0,23%, queda ainda mais acentuada que a prevista por analistas – a média esperada por especialistas ouvidos pelo ‘Broadcast’ era de -0,18%. Com o resultado, o mercado avalia que cresceu o espaço para a queda nos juros – há agora uma expectativa maior de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central corte em 1 ponto porcentual a taxa básica de juros, a Selic, na reunião de julho, em vez do 0,75 ponto que era a aposta majoritária anterior.

“O corte de 1 ponto porcentual (de 10,25% para 9,25% ao ano) deixa de ser apenas mais uma opção na mesa para ser o cenário base do BC”, disse Rafael Cardoso, economista da Daycoval Investimentos. “Por outro lado, as incertezas atuais devem impedir que a Selic fique abaixo de 8,5% no final do ano.”

O aumento no desemprego e a queda na renda das famílias têm deprimido a demanda, ajudando a conter a inflação Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Mas uma parte do mercado já acredita que Selic possa chegar em dezembro num nível ainda mais baixo. Para Tomás Goulart, da Flag Asset Management, a queda da inflação e a atividade econômica fraca são condizentes com a manutenção no ritmo de queda da Selic em um ponto porcentual, com possibilidade de a taxa fechar o ano em 8%.

A notícia da deflação maior que o esperado chegou a provocar uma queda nos contratos de juros no mercado futuro ontem. Mas as notícias de turbulência vindas do cenário político acabaram revertendo o movimento no final do dia.

O professor de econometria e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Paulo Picchetti, destaca a magnitude da redução do IPCA em um ano. Em junho passado, a inflação acumulada em 12 meses era de 8,84% e fechou o mês passado em 3%. “Um ano atrás, se alguém falasse que hoje estaríamos com uma inflação de 3% no acumulado de 12 meses, as pessoas dariam risada. Isso só corrobora o momento oportuno da mudança da meta de inflação”, disse, citando que as metas de 4,25% em 2019 e de 4,0% em 2020 são críveis e que as expectativas estão ancoradas.

Em junho, as famílias pagaram menos por energia elétrica, alimentos e combustíveis. No entanto, a deflação apenas evitou que o poder aquisitivo da população diminuísse ainda mais, não quer dizer que houve alívio no bolso das famílias, avaliou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

“O que acontece é que a situação não fica pior. Quem vai sentir um certo alívio são aquelas pessoas que tiveram algum reajuste nos seus salários nos últimos tempos. Não são todas. A inflação parou naquele nível, o patamar de preços não retrocedeu ao nível do ano passado.”

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O aumento no desemprego e a queda na renda das famílias têm deprimido a demanda, ajudando a conter a inflação, lembrou a coordenadora do IBGE. “A renda do brasileiro está baixa, o desemprego está muito alto. Então é uma questão de oferta e de demanda mesmo.”

De acordo com o IBGE, a demanda enfraquecida tem impacto generalizado entre os itens pesquisados, porque impede aumentos e repasses de custos nos mais variados segmentos, até mesmo na alimentação. Os produtos alimentícios consumidos no domicílio recuaram 0,93% no IPCA de junho: de 153 itens, 100 ficaram mais baratos.

Recuo. Em junho, o principal impacto sobre a inflação veio da conta de luz, com redução de 5,52%. A queda foi decorrente, sobretudo, da substituição da bandeira vermelha pela verde, o que eliminou a cobrança extra de R$ 3,00 a cada 100 kWh consumidos. Em julho, entretanto, a conta de luz volta a subir, com a incidência da bandeira amarela, que implicará numa cobrança extra de R$ 2 a cada 100 kWh.

“A queda na energia elétrica é uma questão pontual, já vai subir agora em julho. Se não fosse por isso, talvez o IPCA tivesse ficado positivo. A deflação é um ponto fora da curva”, disse Salomão Quadros, superintendente adjunto para Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). / COLABORARAM THAÍS BARCELLOS E MARIA REGINA SILVA

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