Publicidade

'Desemprego continuará subindo, mas em ritmo menor'

O professor de Economia da USP, Hélio Zylberstajn, avalia ser difícil a criação de empregos suficientes, nos próximos seis meses, que seja capaz de estabilizar a taxa de desemprego

Por
Atualização:
Opesquisador da Fipe e professorda USPHélio Zylberstajn Foto: Wertjer Santana/Estadão

Qual sua avaliação sobre os resultados da Pnad?

PUBLICIDADE

O comparativo da pesquisa, de queda de 0,7 ponto porcentual, é do trimestre terminado em junho em relação ao que terminou em março, quando houve uma oscilação grande, com crescimento alto do desemprego. Prefiro olhar para este trimestre e para aquele que terminou seis meses atrás, que é dezembro de 2016, pois assim temos um balanço do primeiro semestre de 2017.

E qual o resultado do emprego nesse período?

O número de pessoas trabalhando em seis meses ficou estável, em 90 milhões, o que é um boa notícia, pois o emprego parou de cair. Mas o desemprego cresceu de 12% para 13%, ou seja, um ponto porcentual. Por que, mantendo o emprego, caiu o desemprego? Porque chegaram ao mercado 1,1 milhão de novos trabalhadores, e eles não conseguem se empregar. Quem está sentado não desocupa a cadeira e quem chega fica em pé. Então não temos ainda criação de novas cadeiras. O emprego não cresceu, mas a notícia boa é que nesses seis meses ele se manteve. Então o crescimento do desemprego é demográfico e não é um crescimento de perda de emprego.

Como deve ficar o mercado de trabalho nesse segundo semestre?

Temos 13 milhões de desempregados e nos próximos seis meses vão chegar mais 1 milhão de pessoas (que passam a fazer parte da População Economicamente Ativa (PEA). Acho muito difícil que se consiga, nos próximos seis meses, criar emprego de forma a estabilizar a taxa de desemprego. Ela vai continuar subindo, mas num ritmo menor. Isso vai ocorrer também porque o segundo semestre é tradicionalmente um pouco melhor para o emprego. Mas não vejo razões para esperar que o desemprego caia.

Quando isso deve ocorrer?

Publicidade

Quando voltar o crescimento e o investimento. Esse nó que a gente tem na política, no regime fiscal e na economia está muito difícil de desatar para o investimento voltar. A notícia recente de que R$ 30 bilhões em investimentos em obras rodoviárias estão amarrados porque há litígios na Justiça é muito ruim. Precisamos desesperadamente disso porque esse tipo de investimento cria emprego imediatamente.

Como o sr. avalia o crescimento da informalidade?

Em seis meses perdemos 700 mil empregos com carteira assinada e ganhamos 600 mil postos sem carteira, por conta própria e empregadores – que cuidam de pequenos negócios. Trocamos 700 mil formais por 600 mil informais. Setorialmente, também houve trocas. A indústria gerou  400 mil vagas, o que é muito bom. A construção civil perdeu 400 mil. O comércio perdeu 300 mil e alojamento e alimentação ganhou 300 mil. Houve uma troca de cadeiras setoriais e uma troca de cadeiras no modo de inserção no mercado de trabalho, formal e informal.

PUBLICIDADE

O que justifica a alta da renda?

O rendimento médio cresceu 0,3% nos seis meses, descontada a inflação, o que é uma coisa incrível. A massa de rendimento cresceu 1,6%, também muito  expressivo. Na pesquisa que fazemos todo mês, o “Salariômetro”, há cinco meses voltaram os ganhos reais nas negociações. Aparentemente tem uma inércia no rendimento no mercado de trabalho. Os salários tendem a crescer inercialmente. Quando a inflação está muito alta isso não aparece em termos reais, mas na hora que cai tão rapidamente vira aumento real. Não deixa de ser uma notícia boa de um lado, porque gera mais consumo. Mas, do ponto de vista da empresa precisa ver se isto está sendo acompanhado de crescimento de produtividade. Caso não, é um crescimento de custo que não tem contrapartida na eficiência.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.