Quando for conhecido o levantamento mais amplo sobre o emprego (a Pnad contínua, calculada pelo IBGE, que já apontou para um desemprego de 8,1%, no trimestre março/maio), ficará evidente que a parcela de desocupados poderá chegar aos 10% da população economicamente ativa até o final do ano, expondo o engodo em que se transformou a ideia de pleno-emprego, alardeada por Dilma Rousseff na campanha presidencial de 2014.
A marca do desemprego de junho só é igual à de julho de 2010, após a recessão de 2009. Entre dezembro de 2014 e o mês passado, a taxa de desocupação aumentou de 4,3% para 6,9%. Caiu o emprego e também o salário médio real, que foi de R$ 2.149, no mês passado, o menor para junho desde 2011. Nos últimos 12 meses, a queda do rendimento foi de R$ 53,87, ou 2,9%.
O recuo do emprego é ainda mais chocante quando se recorda que, sazonalmente, os meses de junho costumam ser favoráveis às contratações. As consequências do aumento do desemprego são mais expressivas em Salvador (11,4%) e Recife (8,8%), ajudando a explicar a deterioração do apoio político ao governo federal no Nordeste. Mas entre as regiões avaliadas São Paulo também registrou desemprego (7,2%) superior à média nacional.
Os indicadores de desemprego seriam piores com o aumento do número de pessoas que procuram emprego, o que não ocorreu entre maio e junho. Mas é improvável que isso persista, alertou o economista Alexandre Schwartsman, em carta aos clientes. Entre as faixas que mais tendem a voltar ao mercado de trabalho está a de 16 a 24 anos. Um dos piores aspectos relativos à alta do desemprego é o de que, até o momento, ele parece ter afetado pouco os preços. A última apuração do índice oficial, o IPCA-15 de julho, espécie de prévia para este mês, registrou alta de 0,59%, chegando a 9,25% em 12 meses. O único setor que começa a acusar uma redução no ritmo de aumentos é o de serviços, que vinha liderando a pressão inflacionária.
Trata-se do pior dos mundos, em que emprego e renda caem e a inflação segue alta.