A disparada da inflação de janeiro não é um indício para o professor da Faculdade de Economia da USP e um dos maiores especialistas em inflação, Heron do Carmo, que o IPCA de 2016 atinja novamente dois dígitos. Ele acha que a recessão e o desemprego terão um efeito deflacionário muito forte e o principal fator de risco da inflação é a questão política. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o sr. avalia o IPCA de janeiro?
Começamos o ano mal. Tivemos choque de tarifas de transporte e choque de oferta de alimentos hortifrutigranjeiros por causa do El Niño.
O resultado de janeiro indica inflação de 2 dígitos para o ano?
Não, por vários motivos. Não há expectativa de que o câmbio tenha o mesmo comportamento de 2015; parte da puxada que houve nos preços dos hortifrutigranjeiros será devolvida quando o clima melhorar e as commodities estão em queda no mercado internacional. A queda do petróleo pode fazer até que não ocorra reajuste de combustíveis e, se tiver, será algo menor do que a inflação. Temos de nos curvar à evidência dos fatos: a queda do PIB e a alta do desemprego terão um efeito deflacionário muito significativo este ano.
Qual é sua projeção de IPCA para 2016?
É difícil fazer projeções porque há muitas variáveis mudando ao mesmo tempo. Mas diria que o mais provável é que o IPCA fique abaixo do que está sendo previsto pelo mercado (7,26%). Para mim, é incompatível uma queda do PIB com inflação elevada.
Qual é o fator de risco para inflação neste ano?
A complicação é a questão do impeachment e essa encrenca toda. O componente político pode ser o fator de risco e desequilibrar a inflação. Se não fosse isso, eu diria que o mais provável era que a inflação ficasse até dentro da meta.
O Banco Central acertou ao parar de subir juros?
Sim. A inflação explosiva de janeiro ocorreu por causa do choque de oferta. Não vejo o que tem juros a ver com essa inflação. Se não tivesse ocorrido esse choque, o índice seria menor, o que permitiria que o BC reduzisse os juros mais para frente. O grande dano é que o BC vai demorar mais tempo para cortar juros. O nosso problema do momento não é inflação, mas o tamanho da recessão e do desemprego.