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Dilma quer baixar taxa Selic a 9% no ano que vem

Presidente quer aproveitar a crise para reduzir os juros, mas com 'cautela', para evitar que a inflação afete demais a nova classe média

Foto do author Vera Rosa
Por Iuri Dantas , Edna Simão , Vera Rosa e BRASÍLIA
Atualização:

A presidente Dilma Rousseff quer aproveitar a crise internacional para reduzir a taxa básica de juros para pelo menos 9% no ano que vem, mas sem sacrificar o consumo da nova classe média. A estratégia embute o risco de os preços continuarem elevados, com a inflação rodando acima da meta do governo por mais tempo que o desejado, o que corrói o poder de compra do consumidor.O plano de voo traçado pelo Palácio do Planalto - e relatado ao Estado por dois ministros e um secretário executivo - prevê uma queda de 3 pontos porcentuais na taxa Selic, hoje em 12%. O corte seria possível, na avaliação do governo, porque a crise mundial provocaria queda de preços. A ordem é cortar juros, mas dizendo que o ritmo vai ser determinado com "prudência". Para Dilma, ainda há "margem de manobra" para que a Selic caia, depois que o Banco Central cortou a taxa preventivamente, em agosto, em meio ponto porcentual. "Estamos tomando todo o cuidado para que o excesso de remédio não prejudique o paciente", resumiu o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. "O governo vai zelar para que aqueles que ascenderam a um nível de consumo maior não percam isso de jeito nenhum."Carvalho não confirma o número de corte para os juros em 2012. Diz apenas que o governo segue "uma política equilibrada e de observação permanente" do cenário internacional.Classe média. A missão do BC é preservar o poder de compra da moeda, combatendo a inflação. Para isso, persegue uma meta de 4,5%, com tolerância de 2 pontos. O índice oficial de inflação está em 7,3% nos últimos 12 meses e o BC projeta que ele fechará o ano em 6,4%. O mercado estima 5,52% para o final de 2012."A nova classe média é o principal fator de preço no Brasil e a dinâmica desse segmento vai determinar o comportamento da inflação", comentou Andre Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. "Se a gente quiser se tornar um país minimamente decente, a renda vai continuar subindo e o custo disso é uma inflação acima da meta."Nas reuniões semanais da coordenação de governo, Dilma se mostra preocupada com a perda de produção em alguns setores da economia e com o emprego, mas avalia que a inflação tende a cair em 2012. Com esse diagnóstico, ela não pretende tomar novas medidas para conter o consumo da classe média."O problema é o seguinte: quando você reduz o consumo também reduz a produção e o emprego. Consideramos que tudo o que tinha de ser feito já foi feito. Além disso, não constatamos essa pressão inflacionária tão forte", afirmou Carvalho.Na sexta-feira, Dilma deu uma dica da estratégia do governo durante encontro com empresários. "Estamos abrindo espaço para que o Banco Central, diante da crise e da ameaça de deflação (...) em algumas economias desenvolvidas, possa iniciar um ciclo cauteloso e responsável de redução da taxa básica de juros", disse ela. "Não é admissível que, se de fato se configura uma recessão e um processo deflacionário no resto do mundo, nós aqui estejamos sem levar isso em conta." Ao optar por uma inflação controlada, mas acima da meta, a presidente arrisca contaminar a economia do futuro com preços altos do passado. Esse fenômeno é conhecido como indexação, em que índices de preços são usados como referência para novos contratos, como ocorre hoje com os aluguéis.Para o BC, é preciso frear um pouco os gastos da nova classe média, que responde por 50,5% do potencial de consumo. Em agosto, o diretor de Regulação do Sistema Financeiro, Luiz Awazu Pereira, chegou a defender uma "suavização do patamar de consumo". Procurados pelo Estado, o BC e o Ministério da Fazenda não se pronunciaram.No relatório trimestral de inflação, o BC alertou sobre a indexação e advertiu que reajustes reais de salários eram um "risco importante". "Não me parece uma boa opção para o Brasil o BC dizer que, para combater a inflação, os pobres têm de ganhar menos", avalia Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto Data Popular, especializado na classe C.

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